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quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

CHUVA DE PEIXE EM ITARARÉ

 
“A data certa, sinhô-môçu, num sei precisa, não!  Foi antis du anu. Num é? Careci priscizão. Mais um menus num  sei? Com precisa cum prescizão não. Meu avô cuntava pru meu pai. Meu pai cuntava pra nóis tudu.   Tudu mundu sabia: Us Veius us moçu, as crianças...  Muitas veiz eli, meu pai, cuntô. "U Dia qui Chuveu Pexi nu Itararé".  Foi pexi di muntão.  Muita genti du povu cuneu pexi du bom, qui pulava diassim vivu, vivinhu.  Foi aqui bem pertinhu.   Na Cruz, qui us troperus afincou.  Foi nu luga dondi caiu nais pexi;   Veiu tudu du céu.  Tudu pulandu.  Vivu.   Vivinhu.   Veiu tudu du céu avuandu i caiu.  Tudu di antigamenti cuntava a chuva di pexi comu foi.  Sem tira e nem pô.       U pôvu creu:  Foi Sum Pedru qui milagrô, todus comerum pexi qui veiu tudu du céu: "AVUANDU".
   
Depoimento de Diva Dias, pesquisa de campo, maio de 2007. efetuada   pelo autor, Prof. Helio.   Versão afro-brasileira, "in-memoriam" a seu pai,"negro  forro",Boa Aventura Dias. 
A Chuva de Peixe, que aconteceu em Itararé, entre os anos da década de sessenta ou setenta do século XVIX, Segundo, o professor Hélio, faz parte da Cultura Popular Paulista. O relato de Diva Dias: - Meu pai, Boa Ventura Dias, contava :
-"O céu de Itararé, escureceu de repente, com trovoada e relâmpago e uma tempestade  muito forte, derrubou arvores, destelhou muitas casas, o córrego Prata , transbordou e invadiu várias casas , perto de suas margens.     De repente começou a cair sapos, cobras e peixes, alguns mortos , mais a maioria estavam vivos: lambari, traíra. bagre, mandi, etc.     O povo,, cataram, os peixes e comeram naturalmente.   Caiu, mais peixes,  perto da Cruz, no pátio da  Capelinha da Santa Cruz..   O povo falava que foi um milagre de São Pedro".
E o prof. Hélio, continua:" A cultura, popular é um campo fértil e generoso de riqueza e diversidade. No mundo contemporâneo, já existe consenso quanto a esta legitimidade. No entanto, as escolas não contemplam em seus currículos o ensinamento da transmissão oral de tradições. Esta lacuna gera um autodesconhecimento de seu próprio lugar histórico e dificulta na comunidade escolar a identificação do local onde vive. No intento de buscar esse reconhecimento na preservação das tradições orais de fundo tropeiro ( exemplo de Itararé), tendo nesses saberes a principal matriz de seus objetivos". Não nos esqueçamos Itararé, nasceu de um pouso tropeiro:


Acampamento  Noturno de  Itararé - Jean Batistes Debret 1827.  (publicada em 1838,  no livro Voyage potoresque et historéque au Brésil).  Tem uma explicação logica, para a Chuva de Peixes, em Itararé.  Provavelmente um redemoinho muito forte, vez uma varredura nas águas dos Rios Caiçara, Três Barras ou de algum açude, bem próximos ao conjunto de casas da época, atual (Bairro Velho) e ficavam  próximas aos rios citados;  um   fator importante é citar que  os ventos predominantes em Itararé, são oriundos do quadrante leste e enquadra no direcionamento, da incidência na queda dos peixes.                   No dia 22 de setembro de 2013 em  Taquarituba, um tornado causou um prejuízo de grande monta, destruindo casas residências e prédios comercias, derrubando arvores ,  veículos e destroços encontrados a quilômetros de distancia e com duas vitimas fatais. Semana passada, fortes ventos em Itararé; uma árvore  de grande  porte foi arrancada com raiz, na Rua São Pedro, esquina com a Rua  Djalma Dutra e  várias casas foram destelhadas.    Recentemente, nas proximidades do  Bairro da Palmeirinha de Baixo, município de Sengés, centenas de arvores de Pinus  foram arrancadas por um vendaval .  Esses exemplos atuais, nos mostram  que fenômenos climáticos são frequentes em nossa região.
Uma curiosidade: Segundo o prof. Hélio, o fato que  o surpreendeu em Itararé, e de  possuir dois padroeiros; Nossa Sra. da Conceição e São Pedro: "Conheço muitos municípios do Brasil, com uma religião católica tradicionalista, com dois patronos, Itararé: é o único".    Nossa Senhora da Conceição é a padroeira oficial da Paróquia, o padroeiríssimo  de São Pedro é de origem popular, além do nome anterior de Itararé, chamar-se Fazenda São Pedro, a chuva de peixe, também pode ter influenciado para o patronato de São Pedro, já que o povo da época, só tinha uma explicação foi um "Milagre, do pescador Pedro". 
Hélio Moreira da Silva.   Jornalista.  Professor de Antropologia Cultural. Membro da UNESCO- Comissão Internacional de Assunto para Paz Mundial.  Professor de Cultura Popular/Folclore da Associação Brasileira de Folclore.  Diretor da ABF- Associação Brasileira de Folclore.  Diretor do Museu Rossine Tavares de Lima /Brasil.  Diretor da Associação Paulista de Folclore.  Membro da Comissão Mineira de Folclore.  Membro do Instituto Nacional do Folclore, Rio de Janeiro. Formado pela Faculdade de Filosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.  Formado no curso de Extensão de Estudo Afro-Asiático na Universidade em Comunicação na ECA da Universidade de São Paulo-USP.  Ex- Conselheiro Estadual de Cultura da Secretaria de Estado de Cultura do Estado de São Paulo.   Membro American  Folldore Society, USA.  Membro da   Societé   d'Éthnologie Française, da Societé Internacionale d'ethnologie et Folldore-SIEF e da International Society for Folk Narrative Reseach - ISFNR.  Ex-Conselheiro da Secretária de Turismo do Estado de São Paulo.  Diretor Consultivo e Conselheiro da AMITUR- (Associação dos Municípios de Interesse Cultural  e Turístico de São Paulo), Residência : Rua João Andrade, 234, Pirituba, São Paulo -SP.  Antônio de Fazio
 

 


 

 

 

terça-feira, 22 de outubro de 2013

"A BATALHA QUE NÃO HOUVE: GRAÇAS A DEUS"


 


A RENDIÇÃO DE ITARARÉ
-Há 83 anos, mais precisamente , no dia 25 de outubro de 1930 -
Em síntese: O movimento político-militar que determinou o fim da Primeira República (1889-1930) originou-se da união entre os políticos e tenentes que foram derrotados nas eleições de 1930 e decidiram pôr fim ao sistema oligárquico através das armas.

Após dois meses de articulações políticas nas principais capitais do país e de preparativos militares, o movimento eclodiu simultaneamente no Rio Grande do Sul e Minas Gerais, na tarde do dia 3 de outubro. Em menos de um mês a revolução já era vitoriosa em quase todo o país, restando apenas São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Pará ainda sob controle do governo federal. Finalmente, um grupo de militares exigiu a renúncia do presidente Washington Luís e pouco depois entregou o poder a Getúlio Vargas.
Foi a vitória do candidato governista, o itapetininguense,  Júlio Prestes, que  nas eleições de março de 1930, derrotando a candidatura de Getúlio Vargas,  apoiado pela Aliança Liberal, deu início a uma nova rearticulação de forças de oposição que culminou na Revolução de 1930. Os revolucionários de 30 tinham como objetivo comum impedir a posse de Júlio Prestes e derrubar o governo de Washington Luís.
Dentre os jovens políticos que se uniram em torno do levante, destacavam-se Getúlio Vargas, Oswaldo Aranha, Flores da Cunha, Lindolfo Collor, João Batista Luzardo, João Neves da Fontoura, Virgílio de Melo Franco, Maurício Cardoso e Francisco Campos. Dos tenentes que haviam participado do movimento tenentista, os nomes de maior destaque eram Juarez Távora, João Alberto e Miguel Costa.
Por sua vez, o ex-líder da Coluna Prestes, Luís Carlos Prestes, optou por um caminho mais radical. Crítico da união dos jovens políticos com a dissidência oligárquica, Prestes decidiu não participar da revolução e lançou seu próprio Manifesto Revolucionário. Declarava-se socialista e sustentava que a mera  troca de homens no poder não atenderia às reais necessidades da população brasileira.
Intermináveis negociações preliminares retardaram as ações militares dos conspiradores contra o governo de Washington Luís. Finalmente, em 26 de julho, o inesperado assassinato de João Pessoa, presidente da Paraíba e candidato derrotado à vice-presidência na chapa da Aliança Liberal, estimulou as adesões e acelerou os preparativos para a deflagração da revolução. Alçado à condição de mártir da revolução, João Pessoa foi enterrado no Rio de Janeiro e seus funerais provocaram grande comoção popular, levando setores do Exército antes reticentes a apoiar a causa revolucionária.
Enfim, a 3 de outubro, sob a liderança civil de Getúlio Vargas e sob a chefia militar do tenente-coronel Góes Monteiro, começaram as diversas ações militares. Simultaneamente deu-se início à revolução no Rio Grande do Sul, à revolução em Minas Gerais e à revolução no Nordeste, os três pilares do movimento.
Com a ocupação de capitais estratégicas como Porto Alegre e Belo Horizonte e de diversas cidades do Nordeste, e com o deslocamento das forças revolucionárias do Rio Grande em direção a São Paulo, o presidente Washington Luís recebeu um ultimato de um grupo de oficiais-generais, liderados por Augusto Tasso Fragoso.     O grupo exigiu a renúncia do presidente. Diante de sua negativa, os militares determinaram sua prisão e o cerco do palácio Guanabara, no dia 24 de outubro. A seguir, formou-se a Junta Provisória de governo, composta pelos generais Tasso Fragoso, João de Deus Mena Barreto e o almirante Isaías de Noronha.
Em virtude do maior peso político que os rio-grandenses detinham no movimento e sob pressão das forças revolucionárias, a Junta finalmente decidiu transmitir o poder a Getúlio Vargas.
Na passagem de trem, por Itararé, a caminho da capital do Brasil, Rio de Janeiro e volteado pelos seus comandantes.   Proferiu a seguinte frase: "Com a vontade e as Graças de Deus.    Piso em torrão Paulista".
Em Itararé, a denominação de 24 de Outubro,   numa de suas principais ruas,   não é em comemoração a vitória das Força Revolucionária,   e sim,   uma homenagem as muitas vidas que seriam eliminadas em Batalha:  GRAÇAS  A  DEUS, NÃO HOUVE!!!
 Como se deu a viagem de Getúlio Vargas rumo ao poder? Como o líder revolucionário viveu a expectativa do grande combate em Itararé? Como estava Itararé quando Getúlio passou ? Quem foi o gaúcho que se prontificou para negociar a rendição de Itararé? Como foi o seu encontro com o inimigo?  E quem foi seu aliado politico em Itararé? Nada mais apropriado do que ler mais uma passagem de 1930:
O novo dono do poder segue sua rota. Levanta de madrugada para ser saudado pelo povo em delírio.
A Batalha de Itararé não acontece.
O deputado gaúcho Glicério Alves, contara em reportagem da revista "O Cruzeiro":     "Estavam assestadas contra Itararé mais de 30 bocas de artilharia". Mais de oito mil homens deveriam atacar a cidade onde o coronel Paes de Andrade comandava as forças legalistas. Vinte e uma bombas serão jogadas por aviões sobre  as tropas legalista.    Depois da deposição de Washington Luís. Glicério Alves oferece-se para ir a Itararé propor aos legalistas que se rendam.
Irá com dois acompanhantes, um dos quais será um prisioneiro que aderira à revolução:          "Pela madrugada de 25 partimos os três, a cavalo. Na saída, o oficial da Força Pública declara-me que estava convencido de que seríamos metralhados... Como ele devia conhecer bem a sua gente, confesso que aquela declaração causou-me um certo ''frio''... A cavalgada foi lúgubre e solene: entre as duas vanguardas não se encontrava viva alma e tinha-se a impressão de que os sons do clarim profanavam aquele enorme silêncio, que ''saía'' das casas abandonadas, da estrada deserta e da floresta que marginava o caminho, a qual acreditávamos povoada de avantesmas... Caminhávamos silenciosos, ao passo lento dos animais, pois a estrada era quase intransitável, por motivo das últimas chuvas. A todo momento, parecia-nos que ia partir uma descarga dos morros que ficavam à margem direita do caminho. Pensamentos sombrios nos assaltavam e a própria natureza era feia e triste, ou talvez assim a achássemos porque ela se revestia da cor do ''cristal com que a mirávamos''.
E assim fomos até as proximidades do rio Itararé, percorrendo uma estrada desconhecida para os três". Nada demais acontecerá. Interceptados, são levados à presença de Paes de Andrade, que, intimado a render-se, recusa, mas aceita partir com Alves para parlamentar com os chefes revolucionários. Itararé cairá com um suspiro.
Getúlio Vargas anota: "À tarde, em território paulista, chegando a Itararé - terreno acidentado onde as forças reacionárias se entrincheiraram para conter o avanço das tropas do sul, comandadas por Miguel Costa, sendo, porém, constantemente batidas e postas em fuga. Na cidade de Itararé, grande aglomeração de tropas e de trens que nos festejam, com escassa população civil".
Não se faz uma revolução sem vaidades. Getúlio reflete: "Neves passa-me um telegrama impertinente, insistindo por sua renúncia à vice-presidência do estado. Coisa difícil de solucionar, casos pessoais.
Em 1932 inicia a Revolução Constitucionalista, organizada pelo estado de São Paulo, que exige entre outros pontos, a constitucionalização do novo regime.   O movimento é derrotado, mas força a convocação da Assembleia Constituinte em 1933.   Em 1934 seria promulgada a nova Constituição.  Chega ao fim a politica café com leite e tem inicio o Estado Novo, novembro de 1937.   As eleições só voltaram ao país ao fim do Estado Novo em 1945.
Na Foto abaixo , Belizário Pinto, ao lado esquerdo de Getúlio Vargas,  e com a mão direita levantada, comanda uma: " Saudação ao novo Presidente do Brasil", na gare da Estação Ferroviária de Itararé . Para os legalista ele foi um traidor. Para os revolucionários um grande aliado politico, posteriormente  foi condecorado com o titulo de "Coronel", pelos seus serviços em prol  das causas revolucionárias.            O coronelismo foi um sistema de poder político que vicejou na época em todo o Brasil.
 

Antônio de Fazio

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

NO LOMBO DA MULA....


                                    

 Da união entre as mulas e o homem, surgiu o tropeirismo, que deu suporte para a economia aurífera até o desenvolvimento das estradas de ferro e rodovias.   A explosão do ouro na região onde hoje é o Estado de Minas Gerais, em meados do século 18, fez com que aumentasse a necessidade de levar mantimentos para abastecer os pequenos povoados que começavam a crescer Brasil adentro. É aí que entra o tropeiro: espécie de caminhoneiro sem motor, transportava mercadorias e alimentos para a região das minas, onde a agricultura e a criação de gado haviam sido proibidas pela Coroa para não dispersar a mão-de-obra do ouro.

Antes mesmo do Caminho Viamão/Minas Gerais, efetuado por Cristóvão Pereira de Abreu,  em 1.732.    O caminho de Ponta Grossa -Itararé -Sorocaba, já existia; o Caminho do Peabiru.   Existia várias ramificações desses caminhos.                               Os Peabiru ( na língua tupi "pe"- caminho, abiru - gramado amassado), são antigos caminhos utilizados pelos indígenas sul-americanos, muito antes do descobrimento.   Ligava litoral ao interior do continente. , constituía-se de uma via que ligava os Andes ao oceano Atlântico, estendia-se por mais de três mil quilômetros, atravessando os territórios dos atuais, Peru, Bolívia, Paraguai e Brasil ou desbravando novas rotas, as caravanas propiciaram o desenvolvimento de cidades – como Pouso Alegre, em Minas Gerais, e Sorocaba, em São Paulo – e abriram caminhos do Sul ao Nordeste do Brasil. Mas, para que as mulas cortassem o centro do País em busca do ouro mineiro, era preciso buscá-las no Rio Grande do Sul. Só lá havia criações dos resistentes animais, trazidos ilegalmente de Montevidéu.



Numa dessas viagens pelo Sul, um tropeiro ganhou fama por sua bravura: Embargue na viagem do tropeiro Reinaldo Silveira. Ele saiu com mais sete peões de Ponta Grossa, no Paraná, rumo a Cruz Alta, no Rio Grande do Sul, para buscar uma tropa de 550 mulas. A viagem começou no dia 28 de julho de 1891 e acabou em 19 de novembro do mesmo ano. As estreitas estradas que beiravam abismos em que caminharam, os mais de 12 rios que atravessaram a nado e as canoas que construíram foram só algumas das agruras pelas quais os tropeiros passaram. Mas, 56 dias depois, voltavam sãos e salvos para casa. Tinham 22 mulas e 3 milhões de réis a menos. Os animais foram mortos ou perdidos. O dinheiro foi extorquido pelo governo em barreiras colocadas nas rotas das tropas, espécie de pedágio da época.


 
Chegada ao acampamento
 Os tropeiros eram bastante organizados. Suas viagens contavam com paradas em distâncias regulares nas rotas. Mesmo assim, às vezes alguns percalços faziam com que os viajantes tivessem de armar a barraca de improviso, em campo aberto. Quando isso acontecia, eles estendiam o ligal – uma lona feita de couro bovino – e dormiam embaixo, junto com a bagagem. Tudo vigiado por cães.
 
 Problemas comuns
Reinaldo e os sete peões tiveram, como em qualquer viagem, alguns probleminhas. Além de perderem o machado que serviria para abrir caminhos na mata – ou para se defender de bichos reais e imaginários, como as mulas-sem-cabeça, das quais morriam de medo –, eles pegaram fortes chuvas. O mau tempo adiou a viagem, ao todo, por 20 dias. Na volta, mais pepinos: 22 mulas foram mortas ou se perderam no meio do caminho.
 Jeitinho tropeiro
As resistentes mulas chegavam a custar 40 vezes mais que uma vaca, que era fonte de alimento. A inflação vinha da dificuldade em “produzir” mulas, pois para que um jumento cruzasse com uma égua era necessário colocar nele a pele de um potro. Só assim o jumento se enchia de coragem e cobria a égua – e a fêmea o aceitava.
 Bebidas quentes
Depois das refeições, os tropeiros costumavam bater papo tomando cachaça. Pelas manhãs, o café tropeiro – com o pó no fundo, sem coar – e um golinho de pinga eram sagrados. “Eles acreditavam que a aguardente limpava o organismo para a viagem. Além disso, a bebida era usada para desinfetar feridas”, afirma Moacyr Flores, historiador da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
 Rango gorduroso
Para aguentar as longas viagens, que às vezes levavam meses, as comidas das tropas deviam ser secas e duráveis. Outra característica era o uso abundante de gordura para garantir a energia dos viajantes. Feijão, toucinho, torresmo, carne-seca, paçoca e farinha de mandioca e de milho eram os principais alimentos. O cozinheiro geralmente chegava antes dos outros nas paradas para ir preparando o rango.
Mortes
Muitos tropeiros morreram durante as tropeadas, no Caminho/Viamão/Sorocaba, há muitos túmulos e cruzes  preservados até os dias atuais, em vários trechos do caminho.     Como fazer o translado do corpo a sua querência, em lombo de mula, principalmente em tropeadas longas.                                Os tropeiros ficavam meses,  longe do convívio familiar.        
Imaginem, a mãe, o pai. a esposa, os filhos e os netos, não compartilharem neste momento de dor, de uma despedida condigna de um ente querido. a única solução era enterra-lo no local ou nas proximidades, onde padecera.  Cito como exemplo, no trecho,: Sengés à Itararé, no Bairros Erva Doce, na beira do corredor do  Porto Velho à curva da Volta Fria , o túmulo do tropeiro, Antônio Jozé Correia, falecido em 06 de janeiro de 1.852,  inscrição  na cruz de ferro fundido.  Deduzimos que os tropeiros que compunham a comitiva ou membros da família, entronizarão a cruz, em sua sepultura. pós-morte.   Fizemos, entrevista com moradores antigos da  região, no Google e não obtivemos nenhum resultado positivo que indicasse  a origem e os ancestrais de Antônio Jozé Correia.    O engenheiro Florestal, Dr. Alzir, era o responsável pelo florestamento, da firma, Papel Impressa Sociedade Anônima (PISA), na fazenda Morungava.   Na  ocasião que preparavam a terra para o plantio, conheceu o túmulo da cruz de ferro, como era conhecida pelos os moradores do Bairro Erva Doce, Capelinha e trabalhadores da empresa;    Dr. Alzir,  tentou, fazer o translado  do resto mortais, para o cemitério da cidade de Sengés, mais foi desestimulado, pelas autoridades da época; diante a negativa , tomou a iniciativa, de cercar o local com arames farpados e palanques de cimento armado.   Trabalhando há vários  anos, na Pisa . não obteve nenhuma  informação da naturalidade ou ancestrais do tropeiro. 
 O tropeio Getúlio Ramos Cleto, nascido e criado  nas proximidades da Cruz  de Ferro, nos conta que seu pai, Antônio Cleto (Tonico), capataz  da invernada do Capivari,    nasceu, na fazenda Morungava e morador por mais de 60 anos,  desconhecia familiares do Antônio Jozé Correia. 
Vejam que com o passar dos tempos, somente,  muda as conjunturas dos fatos:                                                               Com o tropeiro Reinaldo Silveira, como diz o ditado popular,    " um dia é da caça outro do caçador", quem comercializa, ganha ou perde.   Com o tropeiro Antônio Jozé: "Vou não sei se volto", devido a longa ausência.     Não sabemos, se morreu de um mal súbito, assassinado ou provocado por um acidente.  
Hoje em dia, devido o alto índice de roubo que co-ocorre com homicídio, simplesmente, ao sairmos de casa, não sabemos se  voltamos.


                                    

segunda-feira, 24 de junho de 2013

SAUDADE É O QUE RESTOU...


Os tropeiros, assim como os carreteiros foram, sem dúvida alguma, os grandes responsáveis pelo desbravamento não só de nossa região, como de várias localidades deste Brasil. Nos seus rastros, os povoamentos foram criando raízes. Os Tropeiros, deixaram seus nomes gravados na pedra da memória de lugares que, hoje, são grandes cidades. Tropeando muares de Viamão a Sorocaba estes verdadeiros heróis, cruzando vargedos e rios, enfrentando toda a sorte de intempéries do tempo e da vida, foram abrindo caminhos e semeando povoados. Cristóvão Pereira de Abreu foi um destes pioneiros sendo considerado como o símbolo do tropeirismo. Tropeirismo, este, preservado no município de Bom Jesus, RS, onde um seminário, bianual, pesquisa e divulga os feitos destes grandes homens.   Em Itararé ficou na memória de muitas pessoas que vivenciaram as tropas  que passavam. Sentados nos famosos bancos, do ponto de táxi São Pedro. Os motoristas:  Mário Libanio, José Silva (Zezé), Benedito Galvão dos Santos Filho (Pixilico) e  os assíduos frequentadores; João Adolfo, José de Lima. Augusto Prado.   Conversa vai..., conserva vem...
Perguntaram para o João Adolfo, se  tinha, lembrança da passagem das tropas em Itararé?  Com a voz embargada, responde: -"Lembro sembre!! Quando a poeira levantava na rua das tropas de chão batido, (atual Rua São Pedro, todos corriam para dentro dos quintais das casas para assistira passagem das tropas, indo direto para feiras de Sorocaba. Assistimos também, a tropa tomando água mo bebedouro, que existia no meio da rua São Pedro, aqui na esquina da Praça, bem enfrente da minha casa. Que coisa linda e triste, ao mesmo tempo, O isqueiro matou o "fosfro", e a luz matou o isqueiro.
Caminhões mataram as tropas e a saudade matou o tropeiro!
O José de Lima, perguntou a todos que ali estavam: -"Alguém de vocês sabem como formada é uma tropa? Como   não houve nenhuma afirmativa, começou a explicar em detalhes como um bom tropeiro: -"Uma Tropa de animais divide-se em: Ponta, Costados (esquerdo e direito), Corpo e Culatra. Para se tanger (repontar) uma Tropa, são necessários “peões” especializados, conforme segue: Ponteiros, Costaneiros, Culatreiros, Sotas (1º e 2º), Capataz, Tropeiro e de um bom Furriel (cancheiro e com boa abastança). Quanto maior for a Tropa, maior será a quantidade de peões, de sorte que, podemos classificar como:
PONTA - de quatro a dez animais (que somam uma “conta”).
TROPILHA - de uma a cinco “contas” (que somam uma “talha”). TROPITA - de uma a cinco (“talhas”).TROPA - de cinco a dez “talhas”. BAITA-TROPA - de onze a vinte “talhas”.
MUNA IA-TROPA - mais de vinte e uma (“talhas”).

O Dr. José Antunes Martins é o autor da poesia:
Fotos Antigas de Itararé - os versos da poesia, que se referem as tropas:
Parece não ser verdade,
a rua com tantos muares e bois!
Como farpas na saudade,
de um mundo que já se foi.

O prédio...a praça...a muladada...
Tudo o progresso matou.
Já não existe mais nada,
só o que a foto guardou.

Antonio de Fazio

quinta-feira, 23 de maio de 2013

O VIAGRA CAIPIRA


Ou "Nó De Cachorro"

Certa vez pescando no rio São Lourenço, no Mato Grosso, em Fátima do São Lourenço, estávamos no Rancho do Norahir Nogueira.                                                                                        José Cipriano Campos, era pirangueiro, caçador e atendia o rancho, um mineiro bom de prosa, contador de casos e acontecidos.
Estavamos descarregando as traias de pesca do caminhão bau, da fabrica de estofados Bandeirantes de propriedade do  Norair.         O Zé Cipriano,foi cevar em alguns poços, rio acima e atracou seu barco em frente ao rancho e trazia consigo um feixe de raízes que apresentavam uns nós, nos seus segmentos, disse que se tratava do nó de cachorro, cujo efeito de uma garrafada é fazer ficar duro o que teima em ficar mole, que levantava qualquer coisa, principalmente aquela coisa que não está querendo mais nada com nada, e que esse estimulante raiz dava alegria e prazer aos homens envelhecidos e cansados.
Com aquele feixe de raízes nas mãos perguntei , para o Rivail Silvano Bessa se ele estava precisando: - Que isso Só! Eu to é muito bom no batente, num preciso desta garrafada para melhorar o meu desempenho, to precisando até é de um calmante... Voltei para o Zé Quinzote, e este foi logo se justificando dando sonoras gargalhadas:- Você tem dúvidas do meu desempenho? To tinindo de bom, e não tem essa de nó de cachorro pra cima do velho, porque o velhinho aqui é garanhão, é garanhão... É garanhão, E o nosso cozinheiro, Neno Culturato, vai nessa? - To fora, sou igual fogão de lenha quando esquenta; haja panela!!
E assim sucessivamente ofereci o nó de cachorro pro Norair, pro Joninha, pro Josafá (comerciante da 25 de março em São Paulo), pro José Sanches, pro Saulo Mineiro (caçador de paca), pro Manasses Alcheleigar (Mana) e todos dando largas risadas dispensaram aquele afrodisíaco caípira, rebatiam em velhas ladainhas e sempre enaltecendo os seus desempenhos na cama.
Lembrei, do amigo Jonas (Papanata), que me relatou, no famoso banco da Praça São Pedro; Ah...Se esse banco falasse......), que estava um tanto derrubado por uma doença degenerativa e precisando mesmo de uma ajuda, passou por vários médicos e nada era um desânimo sem fim. Fui até a cidade de Rodonópolis e comprei um garrafão de vinho branco, recomendado, e já no rancho macetei aquelas raízes e aqueles nós, seguindo cegamente as instruções do Zé Cipriano.
Fui introduzindo no garrafão as raízes com os nós devidamente macetados e o vinho foi se turvando, adquirindo uma coloração avermelhada, e teria que ser deixado em repouso pelo prazo de pelo ao menos três dias.
Na pescaria os dias passam rápidos e ligeiros cono serelepe, e somente lá pelo quarto ou quinto dia foi que me lembrei da garrafada e avidamente fui tomar uma dose daquele revigorante de largas famas,não por necessidade e sim, para provar o sabor da garrafada, mas para minha surpresa e decepção o garrafão de vinho estava vazio, completamente vazio, estava seco, nem uma só gotinha sobrou do vinho, tomaram às escondidas o elixir do Papanata.
Com o garrafão vazio nas mãos indaguei os meus companheiros querendo saber qual deles havia bebido toda a garrafada, e todos juravam de pés juntos que não tinham sequer visto a tal garrafada, que não precisavam de muletas, mas não olhavam nos meus olhos, cabeças abaixadas, com um sorriso maroto discordavam da acusação:
- Cambada, eu sei que foram vocês que tomaram a garrafada, e tomara que o efeito em vocês seja ao contrário, mas bem ao contrário, praguejei!
Relatando ao Zé Cipriano do acontecido, ele deu largas gargalhadas, e falava por falar:
- Uai, quem disse que os garanhões não estavam precisando de uma garrafada de nó de cachorro?
A nossa traia já arrumada nas caminhão, íamos partir, foi quando aquele bom mineiro me presenteou com um novo feixe de raízes do nó de cachorro, e ele sorrindo me recomendou que só fizesse a garrafada quando estivesse em casa para evitar os gambás beberrões e os falsos garanhões.
A viagem de volta é sempre longa, mais de mil quilômetros e quinhentos longe de casa, avançamos por estradas sem fim, chegando finalmente em casa, cada um tomou o seu rumo, e no outro dia me lembrei do nó de cachorro, e saí a procurá-lo, procura daqui, procura dali e nada, olhei nas caixas de pescarias e nada, alguém havia surripiado o feixe de raízes, na certa ciente dos seus efeitos revigorantes. Eu fiquei sem saber que gosto tinha a garrafada do afamado nó de cachorro.
Contei o acontecido pro Papanata, que ficou chateado e sem saber se realmente era tão afrodisíaco como diziam os ribeirinhos e o Zé Cipriano. Não fiquei sabendo até a data de hoje, qual o efeito do elexir afrodisíaco: NOS ENIGMÁTICOS GARANHÕES!!!

Antônio de Fázio

terça-feira, 23 de abril de 2013

Tropeiros - Plantando Cidades.


Ponte sobre o Rio Tarará, Construída pelo Coronel Cristóvão Pereira de Abreu-1732.

No trajeto, que o Coronel Cristovão Preira de Abreu, efetuou do Rio Grande do Sul até Minas Gerais, foram construídas 300 pontes, dentre elas a ponte do rio Itararé, documentada pelo pintor Jean Baptiste Debret.(na imagem acima, foto tirada pelo fotografo,Gustavo Jason da tela de Debret). No roteiro até o ano de 1745, continua com o nome de Rio Tarará. No roteiro de 1750, com o nome de Rio Tararé e a partir do roteiro de 1773, finalmente com o nome de Rio Itararé. Após travessia perigosa do Rio Itararé, a meia légua de distância ficava o Pouso de Itararé, entre os Arroios Prata e Caiçara, de águas límpidas. os tropeiros descansavam as tropas , restabelecendo-as, para as feiras de Sorocaba e também, as "picavam".

O comércio nos pousos, ao longo do Caminho Viamão-Sorocaba, desenvolviam-se naturalmente para atender as tropas, ao mesmo tempo em que os tropeiros levavam e traziam mercadorias para esses pousos. No Pouso de Itararé, tinha uma peculiaridade, devido a sua localização geografíca, os tropeiro oriundos da região cafeeira e canavieira do Oeste de São Paulo, vinham "picar-tropas" (comprar). O caminho, os tropeiros chamavam de: Caminho dos Picadores de Tropas ou do Café. Os tropeiros prestaram, assim, importante contribuição ao desenvolvimento das regiões por onde passaram e foram responsáveis pela integração econômica e cultural entre muitas regiões longínquas de São Paulo, com o aparecimento de vilas, freguesias e cidades.

Os tropeiros percorriam uma distância aproximada de 40 Km diários, nos mais diversos tipos de trechos. O tropeiro iniciava-se na profissão por volta dos 10 anos, acompanhando o pai, que era o negociante que "picava" (compra e venda ) e o condutor da tropa.

Usava chapelão de feltro preto, cinza ou marrom, de abas viradas, camisa de cor similar ao chapéu de pano forte, capa e/ou manta com uma abertura no centro, jogada sobre o ombro, botas de couro flexível que chegavam até o meio da coxa para proteção nos terrenos alagados, nas matas em dias de chuva. A alimentação dos tropeiros era constituída basicamente por toucinho, feijão, farinha, pimenta-do-reino, café, fubá e Cuité (um molho de vinagre com fruto cáustico espremido). Nos pousos, comiam feijão quase sem molho com pedaços de carne de sol e toucinho (feijão tropeiro), que era servido com farofa e couve picada. Já as bebidas alcoólicas só eram permitidas em ocasiões especiais: nos dias muitos frios tomavam um pouco de cachaça para evitar constipação e como remédio para picada de insetos.

A mula ou burro do tropeiro levava uma sela apetrechada com uma sacola, para guardar sua capa e ferramentas do uso diário.`

O resto da tropa era composta por muares (burros ou mulas),soltos, que formavam a fila,seguindo a mula madrinha, na retaguarda.os animais eram responsáveis por carregar a “malotagem” composta pelos apetrechos e arreios necessários de cada animal no condicionamento pela bruaca (bolsões de couro que eram colocados sobre a cangalha e serviam para guardar comida,mercadoria e os utensílios da cozinha).

Em torno dessa atividade primitiva nasceram e viveram com largueza várias profissões e indústrias organizadas, como a de "rancheiro", proprietários de "rancho" ou alojamento em que pousavam as tropas. Geralmente não era retribuída a hospedagem, cobrando o seu proprietário apenas o milho e o pasto consumidos pelos animais, porque os tropeiros conduziam cozinhas próprias.

A profissão de ferrador também foi criada pelas necessidades desse fenômeno econômico-social, consistindo ela em pregar as ferraduras nos animais das tropas cargueiras e acumulando geralmente a profissão de ajeitar ou veterinário.

O tropeiro deveria ser capaz de resolver inúmeros problemas durante a viagem. As longas jornadas exigiam que ele fosse médico, soldado, artesão, caçador, pescador, cozinheiro, veterinário, negociante, mensageiro e agricultor. Tantos ofícios exigiam um arsenal variado de instrumentos e ferramentas.

1. Freme: espécie de canivete-suíço dos tropeiros. Suas lâminas e pontas eram usadas principalmente para "sangrar" cavalos e burros.

2. Puxavante: instrumento de ferro usado para aparar o casco do animal antes de receber a ferradura. O tipo mais antigo tinha este formato de foice; os mais recentes são semelhantes a pás.

3. Pito: instrumento de ferro usado para apertar o focinho do burro. Usado no animal a ser ferrado, especialmente se fosse bravo ou inquieto.

4. Holofote: lanterna do tropeiro, composta de um gomo de taquara ou bambu, cheio de querosene e com uma torcida de pano velho de algodão.

5. Ciculateira: cafeteira. Também era conhecida como chocolateira ou ainda esculateira.

6- Ligal: Manta grande feita de coro cru, servia como coberta para o tropeiro e para cobrir a carga da mula, protegendo -a de chuva ou poeira

6. Relho: chicote para animais usado ainda hoje no interior de São Paulo.

LINGUAGEM DO TROPEIRO
A Região Sul e Oeste do Estado de São Paulo, ainda guarda vestígios da influência dos tropeiros, não só na culinária e nas fazendas, mas também na linguagem do homem do campo:

Ancorote: barril pequeno, usado para transporte de aguardente. Também conhecido como corote.

Apear: descer da montaria,

Arranchar: pousar, descansar no rancho.

Arreio: peça principal do arreamento de montar, que corresponde à que em geral se chama sela.

Bruaca: bolsa de couro cru usada para transporte de comida e mercadorias.

Cangalha: conjunto de peças de madeira e couro, colocadas sobre o burro para a acomodação da carga.

Enervar: armar com taquaras o couro para mantê-lo bem esticado.

Jacá: grande cesto sem tampa, medindo cerca de meio metro de diâmetro e 70 centímetros de altura. Poderia ser trançado com taquaras ou couro de tatu.

Goitar: lutar entre amigos, empurrar e segurar de brincadeira.

Guampa: copo ou vasilha para líquidos feita de chifre.

Manta: prejuízo nos negócios. Passar uma manta é prejudicar o outro em uma barganha.

Picaço: Cor rara nos burros: avermelhado com cabeça e pernas brancas.

Pisadura: Ferida no lombo dos animais de sela causada pelo roçar de arreios.

Ralado: animal que manca. Sem ferradura, gasta o casco e fere o talão.

Rendidura: hérnia nos animais de carga.

Suador: almofada de paina ou palha, colocada de baixo da cangalha para não ferir o lombo do animal.

Tralha: bagagem que acompanha o viajante, conjunto de peças de montaria.

Tranca-fio: correias de couro torcido usadas para unir os jacás e evitar que balancem na viagem

Zangar: estragar a carga de carne de porco por falta de sal ou atraso na viagem.

- Segundo Sérgio Buarque de Holanda, houve em 1754 uma tropa que pode ser considerada a maior já registrada: 3780 mulas fizeram o percurso do Rio Grande do Sul até Minas Gerais e com certeza, a maior que passou por Itararé.

Os lucros possibilitaram a ascensão social desta gente que passou a ostentar seus símbolos de riqueza e a gastar vultuosas quantias em cabarés, jogos e teatros além de ricos ornamentos para suas cavalgaduras. Os tropeiros são encontrados nas raízes de diversas famílias importantes dos Estados de São Paulo, Minas Gerais.Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Em Itararé, destacamos a famílias dos tropeiros: João de Almeida Queiros, Honorato Fiuza: Joaquim Dias Tatit, Carlos Menk, José de Lima, José Ruivo, Dioclécio Duarte, Julinho de Almeida, Eduardo Martins, Coronel Belizario Pinto, Indalécio Ramos, Antônio Cleto (Tonico), Luís Carlos Luck.... Os tropeiros, relacionados eram na maioria, compradores de muares, bois e porcos, alguns nasceram mas todos com residências fixas em Itararé.                                                                                                                                            Para elucidar, sito o exemplo,do tropeiro Carlos Menk. Eponina Aparecida Menk Derderian.    Relata.-"Meu pai, contratou vários  tropeiros gaúchos:: Antônio Gonçalves Melo, Luciano Rosa, Licínio Antunes de Oliveira, Dioclésio José Duarte, Horacio Peper, entre outros. para comprar muares nos municipios do Rio Grande do Sul :  São Borja, Itaqui, Cruz Alta, Santo Angelo. Alegrete, etc...   Reunia-se uma tropa de quatrocentos ou mais muares e à conduzia até Itararé. O maior fornecedor, Dr.Getúlio Dorneles Vargas, proprietário de um grande criatório de muares na Fazenda Itu, localizada em Itaqui -RS.   Tropeiros de outras localidades de São Paulo que picavam tropas em todo o Estado, para meu pai : Sebastião Santuci (Dois Corregos), Eraldino Corrêa (Itapetininga), João Antônio Colaço (Piraju-Itapetininga), Juvenal Cerineo (Itapetininga), Cintra de São Paulo entre outros . Em Itararé eram contratados, tropeiros, também, chamados "peão de tropas", que picavam as tropas no interior de São Pulo, para meu pai,  na grande maioria, ganhavam uma comissão de vinte porcento, do valor da mula ou burro picado".
Tais homens passaram a serem respeitados por seu poder econômico e político, além de ter também se tornado "figura extremamente popular, o tropeiro, se no princípio da era mineradora teve qualquer cousa do antipático, pela especulação que fazia dos gêneros, aos poucos foi adquirindo, ao lado da função puramente econômica de abastecedor, um papel mais social e simpático de portador de notícias, mensageiro de cartas e recados. Representava um verdadeiro traço de união entre centros urbanos afastadíssimos, levando de uns para outros as novidades políticas, as informações sobre as cousas de uso, correspondências, modas...



sábado, 13 de abril de 2013

ITARARÉ: PRIMEIRA PARÓQUIA DO PADRE LUÍS CASTANHO DE ALMEIDA

HISTORIADOR  MOR DE SOROCABA E. REGIÃO.
Foi um pesquisador que tornou compreensível não apenas a história mas também a alma e a cultura da gente de Sorocaba e Região. Nasceu em Guareí em 1904, filho do Coronel Anibal Castanho de Almeida e de Ana Candida Rolim.
 Foi um pesquisador incansável que tornou compreensível não apenas a história, mas também a alma e a cultura da gente de Sorocabae Região.    Em 1924, fendo concluido os estudos para sacerdósio, foi convocado para secretariar a Diocese de Sorocaba e de secretário particular do bispo.     Em 8 de maio de 1927, na catedral de Sorocaba, Luís Castanho foi ordenado sacerdote.   Sua primeira missa, foi no dia seguinte na mesma igreja.   Entre 1929 e 1930, assume em Itararé,sua primeira paróquia, conforme documento de posse. que obtivemos do Tombo da Paróquia de Itararé:

Foi padre coadjutor em Itapetininga e assume sua segunda  paróquia em Guareí, ficando até 1933, neste mesmo ano, o padre Castanho foi transferido para Sorocaba, foi coadjutor da Catedral e assume a sua terceira paróquia, de Bom Jesus dos Aflitos, no Além Ponte, onde levou a familia.   Uma grave doença (esclerose dos nervos), começou a manisfestar, que o obrigou a deixar o paroquiato em 1937.  Permaneceu, como auxiliar na mesma paróquia até 1939.    Como reitor do Seminário Menor Diocesano "São Carlos Borromeu".   Quatro anos depois, sem condições físicas, interrompeu difintivamente as atividades pública de sacerdote.    Mesmo assim continuou usando a batina e celebrando a missa todos os dias em sua casa do Além Ponte, confessava os fiéis e dava bençãos.   Era querido dos vizinhos e das crianças.     A doença foi cruel com o padre, perdeu completamente  a audição, ele falava, lia e se movimentava com grande dificuldade.    Com as mãos tremulas não o  impediu de escrever.     E contava com ajuda de amigos para passar a limpo seus artigos, revisar originais e saber das notícias e novidades que não conseguia ler com as letras miúdas nos jornais.   Doente o padre passava horas nos arquivos da Curia Diocesana, das Prefeituras e cartórios da região, vasculhando informações.  Vez várias viagens para pesquisar em institutos em São Paulo e do Rio.   Sua temática era variada, mostrando interesse pelo folclore e pela história do Ciclo Tropeiro e de Sorocaba.     Sem dificuldades financeiras, na falta de editora, custeava suas próprias edições.      
O Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba, efetuou um levantamento, foram 22 livros editados e vários artigos curtos na imprensa de Sorocaba, sobre váriados temas.   Entre os títulos, encontram-se: "A Revolução Liberal de 1842" (1944), "História de Sorocaba"(1951),' História de Sorocaba para Crianças" (1967), "Vida Quotidiana da Capitania de São Paulo-1722 1822" ( 1975).
Após uma pesquisa efetuada, dedica um capítulo muito especial sobre Itararé, no livro "Vida e Morte do Tropeiro"(1971). O pesudónimo Aluísio de Almeida surgiu em 1938 .   Como ele, o padre (designado Monsenhor Camareiro Secreto em 1962), é considerado o icone do tropeirismo e com renome nacional, tendo seus trabalhos citados por autores como Antônio Cándido, Gilberto Freyre, Luíz da Cámera Cascudo, Mário de Andrade e Sergio de Hollanda, entre outros.
Sua casa, na rua Rui Barbosa, 84, existe até hoje.   E a "Casa Aluísio de Almeida", onde funciona um pequeno museu com livros , escritos, fotos e pertences do padre.   A casa serve, também de sede para o Instituto Histórico, Geografico e Genealógico de Sorocaba, fundado por Luíz Castanho, e para o Museu da Imagem e do Som.    Luís Castanho faleceu no dia 28 de fevereiro de 1981.
“Câmara Cascudo dizia que padre Castanho era um sacerdote que sabia e ressabia as coisas do folclore".
Para o professor Milton Marinho Martins,o exemplo de fidelidade à Igreja foi manifestado em sua dedicação exemplar até mesmo diante da doença que aos poucos foi tirando seus movimentos e sua fala.
Era um homem que tinha uma tenacidade, uma vontade de vencer e de ser útil aos outros. Atacado pela esclerose múltipla e com idade avançada conseguiu se sobressair sobre os escritores. Foi um sacerdote que honrou de maneira muito bonita sua vida”.
Sua principal obra sobre o Tropeirsmo: VIDA E MORTE DE UM TROPEIRO













































Monsenhor Luís Castanho de Ameida.