Da união entre as mulas e o homem, surgiu o tropeirismo, que deu suporte para a economia aurífera até o desenvolvimento das estradas de ferro e rodovias. A explosão do ouro na região onde hoje é o Estado de Minas Gerais, em meados do século 18, fez com que aumentasse a necessidade de levar mantimentos para abastecer os pequenos povoados que começavam a crescer Brasil adentro. É aí que entra o tropeiro: espécie de caminhoneiro sem motor, transportava mercadorias e alimentos para a região das minas, onde a agricultura e a criação de gado haviam sido proibidas pela Coroa para não dispersar a mão-de-obra do ouro.
Antes mesmo do Caminho Viamão/Minas Gerais, efetuado por Cristóvão Pereira de Abreu, em 1.732. O caminho de Ponta Grossa -Itararé -Sorocaba, já existia; o Caminho do Peabiru. Existia várias ramificações desses caminhos. Os Peabiru ( na língua tupi "pe"- caminho, abiru - gramado amassado), são antigos caminhos utilizados pelos indígenas sul-americanos, muito antes do descobrimento. Ligava litoral ao interior do continente. , constituía-se de uma via que ligava os Andes ao oceano Atlântico, estendia-se por mais de três mil quilômetros, atravessando os territórios dos atuais, Peru, Bolívia, Paraguai e Brasil ou desbravando novas rotas, as caravanas propiciaram o desenvolvimento de cidades – como Pouso Alegre, em Minas Gerais, e Sorocaba, em São Paulo – e abriram caminhos do Sul ao Nordeste do Brasil. Mas, para que as mulas cortassem o centro do País em busca do ouro mineiro, era preciso buscá-las no Rio Grande do Sul. Só lá havia criações dos resistentes animais, trazidos ilegalmente de Montevidéu.
Numa dessas viagens pelo Sul, um tropeiro ganhou fama por sua bravura: Embargue na viagem do tropeiro Reinaldo Silveira. Ele saiu com mais sete peões de Ponta Grossa, no Paraná, rumo a Cruz Alta, no Rio Grande do Sul, para buscar uma tropa de 550 mulas. A viagem começou no dia 28 de julho de 1891 e acabou em 19 de novembro do mesmo ano. As estreitas estradas que beiravam abismos em que caminharam, os mais de 12 rios que atravessaram a nado e as canoas que construíram foram só algumas das agruras pelas quais os tropeiros passaram. Mas, 56 dias depois, voltavam sãos e salvos para casa. Tinham 22 mulas e 3 milhões de réis a menos. Os animais foram mortos ou perdidos. O dinheiro foi extorquido pelo governo em barreiras colocadas nas rotas das tropas, espécie de pedágio da época.
Chegada ao acampamento
Os tropeiros eram bastante organizados. Suas viagens contavam com paradas em distâncias regulares nas rotas. Mesmo assim, às vezes alguns percalços faziam com que os viajantes tivessem de armar a barraca de improviso, em campo aberto. Quando isso acontecia, eles estendiam o ligal – uma lona feita de couro bovino – e dormiam embaixo, junto com a bagagem. Tudo vigiado por cães.
Os tropeiros eram bastante organizados. Suas viagens contavam com paradas em distâncias regulares nas rotas. Mesmo assim, às vezes alguns percalços faziam com que os viajantes tivessem de armar a barraca de improviso, em campo aberto. Quando isso acontecia, eles estendiam o ligal – uma lona feita de couro bovino – e dormiam embaixo, junto com a bagagem. Tudo vigiado por cães.
Problemas comuns
Reinaldo e os sete peões tiveram, como em qualquer viagem, alguns probleminhas. Além de perderem o machado que serviria para abrir caminhos na mata – ou para se defender de bichos reais e imaginários, como as mulas-sem-cabeça, das quais morriam de medo –, eles pegaram fortes chuvas. O mau tempo adiou a viagem, ao todo, por 20 dias. Na volta, mais pepinos: 22 mulas foram mortas ou se perderam no meio do caminho.
Jeitinho tropeiro
As resistentes mulas chegavam a custar 40 vezes mais que uma vaca, que era fonte de alimento. A inflação vinha da dificuldade em “produzir” mulas, pois para que um jumento cruzasse com uma égua era necessário colocar nele a pele de um potro. Só assim o jumento se enchia de coragem e cobria a égua – e a fêmea o aceitava.
Bebidas quentes
Depois das refeições, os tropeiros costumavam bater papo tomando cachaça. Pelas manhãs, o café tropeiro – com o pó no fundo, sem coar – e um golinho de pinga eram sagrados. “Eles acreditavam que a aguardente limpava o organismo para a viagem. Além disso, a bebida era usada para desinfetar feridas”, afirma Moacyr Flores, historiador da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
Rango gorduroso
Para aguentar as longas viagens, que às vezes levavam meses, as comidas das tropas deviam ser secas e duráveis. Outra característica era o uso abundante de gordura para garantir a energia dos viajantes. Feijão, toucinho, torresmo, carne-seca, paçoca e farinha de mandioca e de milho eram os principais alimentos. O cozinheiro geralmente chegava antes dos outros nas paradas para ir preparando o rango.
Mortes
Muitos tropeiros morreram durante as tropeadas, no Caminho/Viamão/Sorocaba, há muitos túmulos e cruzes preservados até os dias atuais, em vários trechos do caminho. Como fazer o translado do corpo a sua querência, em lombo de mula, principalmente em tropeadas longas. Os tropeiros ficavam meses, longe do convívio familiar.
Imaginem, a mãe, o pai. a esposa, os filhos e os netos, não compartilharem neste momento de dor, de uma despedida condigna de um ente querido. a única solução era enterra-lo no local ou nas proximidades, onde padecera. Cito como exemplo, no trecho,: Sengés à Itararé, no Bairros Erva Doce, na beira do corredor do Porto Velho à curva da Volta Fria , o túmulo do tropeiro, Antônio Jozé Correia, falecido em 06 de janeiro de 1.852, inscrição na cruz de ferro fundido. Deduzimos que os tropeiros que compunham a comitiva ou membros da família, entronizarão a cruz, em sua sepultura. pós-morte. Fizemos, entrevista com moradores antigos da região, no Google e não obtivemos nenhum resultado positivo que indicasse a origem e os ancestrais de Antônio Jozé Correia. O engenheiro Florestal, Dr. Alzir, era o responsável pelo florestamento, da firma, Papel Impressa Sociedade Anônima (PISA), na fazenda Morungava. Na ocasião que preparavam a terra para o plantio, conheceu o túmulo da cruz de ferro, como era conhecida pelos os moradores do Bairro Erva Doce, Capelinha e trabalhadores da empresa; Dr. Alzir, tentou, fazer o translado do resto mortais, para o cemitério da cidade de Sengés, mais foi desestimulado, pelas autoridades da época; diante a negativa , tomou a iniciativa, de cercar o local com arames farpados e palanques de cimento armado. Trabalhando há vários anos, na Pisa . não obteve nenhuma informação da naturalidade ou ancestrais do tropeiro.
O tropeio Getúlio Ramos Cleto, nascido e criado nas proximidades da Cruz de Ferro, nos conta que seu pai, Antônio Cleto (Tonico), capataz da invernada do Capivari, nasceu, na fazenda Morungava e morador por mais de 60 anos, desconhecia familiares do Antônio Jozé Correia.
Vejam que com o passar dos tempos, somente, muda as conjunturas dos fatos: Com o tropeiro Reinaldo Silveira, como diz o ditado popular, " um dia é da caça outro do caçador", quem comercializa, ganha ou perde. Com o tropeiro Antônio Jozé: "Vou não sei se volto", devido a longa ausência. Não sabemos, se morreu de um mal súbito, assassinado ou provocado por um acidente.