Ponte sobre o Rio Tarará, Construída pelo Coronel Cristóvão Pereira de Abreu-1732.
No trajeto, que o Coronel Cristovão Preira de Abreu, efetuou do Rio Grande do Sul até Minas Gerais, foram construídas 300 pontes, dentre elas a ponte do rio Itararé, documentada pelo pintor Jean Baptiste Debret.(na imagem acima, foto tirada pelo fotografo,Gustavo Jason da tela de Debret). No roteiro até o ano de 1745, continua com o nome de Rio Tarará. No roteiro de 1750, com o nome de Rio Tararé e a partir do roteiro de 1773, finalmente com o nome de Rio Itararé. Após travessia perigosa do Rio Itararé, a meia légua de distância ficava o Pouso de Itararé, entre os Arroios Prata e Caiçara, de águas límpidas. os tropeiros descansavam as tropas , restabelecendo-as, para as feiras de Sorocaba e também, as "picavam".
O comércio nos pousos, ao longo do Caminho Viamão-Sorocaba, desenvolviam-se naturalmente para atender as tropas, ao mesmo tempo em que os tropeiros levavam e traziam mercadorias para esses pousos. No Pouso de Itararé, tinha uma peculiaridade, devido a sua localização geografíca, os tropeiro oriundos da região cafeeira e canavieira do Oeste de São Paulo, vinham "picar-tropas" (comprar). O caminho, os tropeiros chamavam de: Caminho dos Picadores de Tropas ou do Café. Os tropeiros prestaram, assim, importante contribuição ao desenvolvimento das regiões por onde passaram e foram responsáveis pela integração econômica e cultural entre muitas regiões longínquas de São Paulo, com o aparecimento de vilas, freguesias e cidades.
Os tropeiros percorriam uma distância aproximada de 40 Km diários, nos mais diversos tipos de trechos. O tropeiro iniciava-se na profissão por volta dos 10 anos, acompanhando o pai, que era o negociante que "picava" (compra e venda ) e o condutor da tropa.
Usava chapelão de feltro preto, cinza ou marrom, de abas viradas, camisa de cor similar ao chapéu de pano forte, capa e/ou manta com uma abertura no centro, jogada sobre o ombro, botas de couro flexível que chegavam até o meio da coxa para proteção nos terrenos alagados, nas matas em dias de chuva. A alimentação dos tropeiros era constituída basicamente por toucinho, feijão, farinha, pimenta-do-reino, café, fubá e Cuité (um molho de vinagre com fruto cáustico espremido). Nos pousos, comiam feijão quase sem molho com pedaços de carne de sol e toucinho (feijão tropeiro), que era servido com farofa e couve picada. Já as bebidas alcoólicas só eram permitidas em ocasiões especiais: nos dias muitos frios tomavam um pouco de cachaça para evitar constipação e como remédio para picada de insetos.
A mula ou burro do tropeiro levava uma sela apetrechada com uma sacola, para guardar sua capa e ferramentas do uso diário.`
O resto da tropa era composta por muares (burros ou mulas),soltos, que formavam a fila,seguindo a mula madrinha, na retaguarda.os animais eram responsáveis por carregar a “malotagem” composta pelos apetrechos e arreios necessários de cada animal no condicionamento pela bruaca (bolsões de couro que eram colocados sobre a cangalha e serviam para guardar comida,mercadoria e os utensílios da cozinha).
Em torno dessa atividade primitiva nasceram e viveram com largueza várias profissões e indústrias organizadas, como a de "rancheiro", proprietários de "rancho" ou alojamento em que pousavam as tropas. Geralmente não era retribuída a hospedagem, cobrando o seu proprietário apenas o milho e o pasto consumidos pelos animais, porque os tropeiros conduziam cozinhas próprias.
A profissão de ferrador também foi criada pelas necessidades desse fenômeno econômico-social, consistindo ela em pregar as ferraduras nos animais das tropas cargueiras e acumulando geralmente a profissão de ajeitar ou veterinário.
O tropeiro deveria ser capaz de resolver inúmeros problemas durante a viagem. As longas jornadas exigiam que ele fosse médico, soldado, artesão, caçador, pescador, cozinheiro, veterinário, negociante, mensageiro e agricultor. Tantos ofícios exigiam um arsenal variado de instrumentos e ferramentas.
1. Freme: espécie de canivete-suíço dos tropeiros. Suas lâminas e pontas eram usadas principalmente para "sangrar" cavalos e burros.
2. Puxavante: instrumento de ferro usado para aparar o casco do animal antes de receber a ferradura. O tipo mais antigo tinha este formato de foice; os mais recentes são semelhantes a pás.
3. Pito: instrumento de ferro usado para apertar o focinho do burro. Usado no animal a ser ferrado, especialmente se fosse bravo ou inquieto.
4. Holofote: lanterna do tropeiro, composta de um gomo de taquara ou bambu, cheio de querosene e com uma torcida de pano velho de algodão.
5. Ciculateira: cafeteira. Também era conhecida como chocolateira ou ainda esculateira.
6- Ligal: Manta grande feita de coro cru, servia como coberta para o tropeiro e para cobrir a carga da mula, protegendo -a de chuva ou poeira
6. Relho: chicote para animais usado ainda hoje no interior de São Paulo.
LINGUAGEM DO TROPEIRO
A Região Sul e Oeste do Estado de São Paulo, ainda guarda vestígios da influência dos tropeiros, não só na culinária e nas fazendas, mas também na linguagem do homem do campo:
Ancorote: barril pequeno, usado para transporte de aguardente. Também conhecido como corote.
Apear: descer da montaria,
Arranchar: pousar, descansar no rancho.
Arreio: peça principal do arreamento de montar, que corresponde à que em geral se chama sela.
Bruaca: bolsa de couro cru usada para transporte de comida e mercadorias.
Cangalha: conjunto de peças de madeira e couro, colocadas sobre o burro para a acomodação da carga.
Enervar: armar com taquaras o couro para mantê-lo bem esticado.
Jacá: grande cesto sem tampa, medindo cerca de meio metro de diâmetro e 70 centímetros de altura. Poderia ser trançado com taquaras ou couro de tatu.
Goitar: lutar entre amigos, empurrar e segurar de brincadeira.
Guampa: copo ou vasilha para líquidos feita de chifre.
Manta: prejuízo nos negócios. Passar uma manta é prejudicar o outro em uma barganha.
Picaço: Cor rara nos burros: avermelhado com cabeça e pernas brancas.
Pisadura: Ferida no lombo dos animais de sela causada pelo roçar de arreios.
Ralado: animal que manca. Sem ferradura, gasta o casco e fere o talão.
Rendidura: hérnia nos animais de carga.
Suador: almofada de paina ou palha, colocada de baixo da cangalha para não ferir o lombo do animal.
Tralha: bagagem que acompanha o viajante, conjunto de peças de montaria.
Tranca-fio: correias de couro torcido usadas para unir os jacás e evitar que balancem na viagem
Zangar: estragar a carga de carne de porco por falta de sal ou atraso na viagem.
- Segundo Sérgio Buarque de Holanda, houve em 1754 uma tropa que pode ser considerada a maior já registrada: 3780 mulas fizeram o percurso do Rio Grande do Sul até Minas Gerais e com certeza, a maior que passou por Itararé.
Os lucros possibilitaram a ascensão social desta gente que passou a ostentar seus símbolos de riqueza e a gastar vultuosas quantias em cabarés, jogos e teatros além de ricos ornamentos para suas cavalgaduras. Os tropeiros são encontrados nas raízes de diversas famílias importantes dos Estados de São Paulo, Minas Gerais.Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Em Itararé, destacamos a famílias dos tropeiros: João de Almeida Queiros, Honorato Fiuza: Joaquim Dias Tatit, Carlos Menk, José de Lima, José Ruivo, Dioclécio Duarte, Julinho de Almeida, Eduardo Martins, Coronel Belizario Pinto, Indalécio Ramos, Antônio Cleto (Tonico), Luís Carlos Luck.... Os tropeiros, relacionados eram na maioria, compradores de muares, bois e porcos, alguns nasceram mas todos com residências fixas em Itararé. Para elucidar, sito o exemplo,do tropeiro Carlos Menk. Eponina Aparecida Menk Derderian. Relata.-"Meu pai, contratou vários tropeiros gaúchos:: Antônio Gonçalves Melo, Luciano Rosa, Licínio Antunes de Oliveira, Dioclésio José Duarte, Horacio Peper, entre outros. para comprar muares nos municipios do Rio Grande do Sul : São Borja, Itaqui, Cruz Alta, Santo Angelo. Alegrete, etc... Reunia-se uma tropa de quatrocentos ou mais muares e à conduzia até Itararé. O maior fornecedor, Dr.Getúlio Dorneles Vargas, proprietário de um grande criatório de muares na Fazenda Itu, localizada em Itaqui -RS. Tropeiros de outras localidades de São Paulo que picavam tropas em todo o Estado, para meu pai : Sebastião Santuci (Dois Corregos), Eraldino Corrêa (Itapetininga), João Antônio Colaço (Piraju-Itapetininga), Juvenal Cerineo (Itapetininga), Cintra de São Paulo entre outros . Em Itararé eram contratados, tropeiros, também, chamados "peão de tropas", que picavam as tropas no interior de São Pulo, para meu pai, na grande maioria, ganhavam uma comissão de vinte porcento, do valor da mula ou burro picado".
Tais homens passaram a serem respeitados por seu poder econômico e político, além de ter também se tornado "figura extremamente popular, o tropeiro, se no princípio da era mineradora teve qualquer cousa do antipático, pela especulação que fazia dos gêneros, aos poucos foi adquirindo, ao lado da função puramente econômica de abastecedor, um papel mais social e simpático de portador de notícias, mensageiro de cartas e recados. Representava um verdadeiro traço de união entre centros urbanos afastadíssimos, levando de uns para outros as novidades políticas, as informações sobre as cousas de uso, correspondências, modas...