Quem nunca ouviu falar do Tito Preto. Lá de Itararé, deveras não sabe nada de mim, Pois até hoje não me apareceu um cara que toda a população da terrinha tinha com uma pessoa amiga e prestativa - E ele infelizmente partiu fora do combinado, que é como costumo dizer. Falo sobre este personagem real que marcou a vidas de muitas pessoas, por isso vou contar umas das suas. O Tito, "trabalhava", para o Deputado Walter Santana Menck, que tinha em sua fazenda Barro Preto, um caminhãozinho ano 1928, Chevrolet, com era apelidado de "cabeça de cavalo", o dito cujo calhambeque, não tinha de mais estragado. Sem pará-choque dianteiro e traseiro, sem portas, carroceria podre, toda torta, lataria enferrujada que não dava nem para ver a cor do bicho. Enfim, era aquele desproposito de viatura. Mas, como o motor estava retificado, e esses motorzinho vão longe até não sei quando, para que o deputado queria? Era para levar palanques para consertar cercas, rolo de arame farpado; Sal para os coxos da invernada, levar latões de leite até a porteira da estrada, e isso ele aguentava bem. Num sábado era dia de folga do Tito, sempre ia de jardineira do Chiquinho,que era guiada pelo Amantino, rumo a Itararé, estrada velha de terra que ligava Itapeva e Itaberá... Resolveu, ir com o "cabeça de cavalo". Pois bem, ao pegar a descida até o Rio Verde, com operários do D.E.R. cascalhando a estrada, eis que aparece, para a surpresa do Tito. Um enorme guarda rodoviário, fazendo o sinal para ele, o Tito encostar. O Tito foi com o canham-beque, pela direita da estrada e lá embaixo, após de rodar uns 100 metros, foi que parou com tudo. Não se ouviu nem o ronco do motor, que era aquela coisa de definição, de tanto se misturar com o barulho de lata velha e carroceria toda destrambelhada. O dialogo que se seguiu entre ele e guarda, depois de o mesmo ter andado muito pra chegar até o lugar, foi assim: GUARDA-Boa tarde eram 6 horas da tarde tarde, que é hora de pescaria. TITO- Boa tarde sim sinhô. GUARDA - A carta? TITO - Que carta, seu guarda? GUARDA-A carta de motorista. Que carta poderia ser? TITO -Ahn..essa não tenho não. Num deu tempo d'eu cunprá a carta ainda. GUARDA- Documento do carro? TITO - Que documento? GUARDA - documento do carro. Documento que prova que o carro é seu. TITO- (ofendido) Pelo amor de Deus! O carro não é meu! !! É do deputado Walter Menck, dono da maior fazenda por essas bandas, trabalho prele e, pode perguntar lá em Itararé, todo mundo me cunhece. GUARDA (já meio impaciente) -Mas o senhor tem que ter esse documento, meu amigo. Quer dizer que não tem? TITO - Não sinhô. Esse documento, também num tenho não. Mas assim que eu pudé eu compro também..GUARDA - (Indo a frente do caminhãozinho) - Acenda os faróis. TITO -O sinhô vá descurpá. O faró da esquerda ta queimado E o da direita sem luz. Guarda - O senhor não tem nem para-choque! è o que estou vendo. TITO -Não sinhô. Onde eu trabaio não precisa num tem-choque cum nada. É na fazenda puxando as coisas de precissão, e a buzina o senhor tem? TITO - Não sinhô. Não tenho também não. Num vô menti pro sinhô. O senhor acha qui vô gastá o meu dinheiro com supérfu? Nem que apresente nota o patrão não mi pagá! GUARDA (já meio irritado com tudo - Breque o senhor tenha? TITO - Se eu tivesse breque tinha parado lá atrás, o senhor pediu. Guarda (já puto). Não tem breque também, não é? Pois bem, o senhor não tem carta, não tem documento, não tem farol, e buzina, não tem breque. Olha meu amigo, se eu for multar, nem vendendo esse caminhão vai dar pra pagar tanta multa. Onde o senhor vai indo agora? Tito (calmo). Tó indo pesca uns peixinho no Rio Verde , que fica logo ali ó. GUARDA (puto, mas muito compreensivo) - vamos fazer uma coisa. Faz de conta que eu não vi o senhor. Pode ir embora com esse "veículo" Se assim posso chama-lo! TITO (do seu jeito gaiato, calmamente) - Então, seo guarda, me faz um favô. Da uma empurradinha no bicho que tô sem bateria também ... Contava o Tito Preto, que o guarda, numa boa, empurrou sozinho o tal "Cabeça-de- cavalo". Chevrolet.
Antonio Fazio.