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domingo, 20 de abril de 2014

A VIDA É ASSIM...

 A VIDA É ASSIM....
 Me chamo Heron Cavalcante, conhecido por Pedrinho Gaúcho, nasci em Pato Branco e sou peão da Fazenda Morungava, lá pras bandas de Sengés. entre os rios Funil e Pelame, era a minha querência. Meu patrão é Moises Lupion, homem exigente no trato com o gado e com as suas lavouras , invernadas  que se debruçam sobre as coxilhas e sobre as várzeas que margeiam arroios. Uma imensidão de terras.
Também sou jóquei de cavalos de carreira em raia reta, minha estatura é mediana,  peso 53 quilos, musculoso não pelos exercícios repetidos, mas pelos movimentos rígidos do machado, do arado e da rudeza de tantas outras lides campeiras. O trabalho não me permite ter os cabelos sempre alinhados, nem a barba sempre bem-aparada. Por gosto, deixei crescer um bigode espesso do qual tenho muito orgulho e que cofio quando um pensamento ruim me bate na telha ou quando sou apertado por uma decisão  encardida. Meu nariz aquilino, dizem, insinua voo incerto e aventureiro. No mais, minhas virtudes são delatadas pelo cumprimento da palavra empenhada, pelo dom da liderança despretensiosa, pelo trato afável ou mais áspero quando a ocasião assim determina.
Ainda adolescente, tive uma desgraça em minha vida , em um entrevero, matei um soldado e um sargento em Clevelândia-PR,.   Era matar ou morrer!!! Fui levado de casa pelo meu pai, na fazenda Morungava, com anuência do Governador Moises Lupion   para conviver com a família de  um grande homem: Antônio Cleto (Tonico), que se compadeceu de meu estado. Convivi , com a família Cleto, por onze anos, para viver no anonimato comecei a usar o pseudônimo de Pedrinho Gaúcho.                       Dona Eermelina Ramos, conhecida por Elvira,
minha segunda mãe, uma curiosidade: D. Elvira, quando foi providenciar seus documentos para seu casamento é que ficou sabendo de seu verdadeiro nome, Ermelina.   Do Seu Tonico, nem falar. Seus filhos:  Silas, Getúlio, José, Cenira, Adélia, Lair e Carmem Lucia, considerava-os como meus irmãos      De lá só saí, quando , prescreveu o crime que cometi.
Pouco me pechei com minha, família depois que comecei a trabalhar na Fazenda Morungava. Aqui o meu espírito cigano se aquietou quando recebi a tarefa espinhosa de ser peão da fazenda do Governador Moises Lupion, convivendo com  mais de uma dúzia de peões, homens de caráter e que ganham o pão com o suor do rosto.
Certa feita, em uma de minhas andanças de peão, acompanhado do Silas , atei a tordilha em um moirão-mestre no fundos da  querência das mulheres da vida; casa da Mariquinha Veiga, em Itararé, era um prédio bonito, onde funcionava um posto de gasolina.   Sob a penumbra, meu coração galopou de vereda em uma morenona de olhos muito graúdos, cabelos escorridos até a cintura, coxas lustrosas e fartas. Mas o Silas, meu grande amigo, companheiro de estância e ligeiro que só ele, considerado como meu irmão, com disse,  num só pealo cingiu a cintura da china, tocando-se para um local em que gozasse privacidade. Sem um fiapo de hesitação, mirei então a pontaria numa alemoa de olhos muito azuis e provocadores, seios abundantes e sotaque carregado nos erres, comecei arrastar assas.
 Enlaçados, nos enfurnamos ansiosos em um cômodo mobiliado por apenas uma cama rústica e um toucador de espelho salpicado pela ferrugem, eu já estava à meia guampa.    E então passamos a noite nas pelejas prazerosas da carne, entre sussurros e cochichos.    Que noitada!! 
Antes do amanhecer, eu e o Silas nos aprumamos satisfeitos e altivos em nossos pingos que nos esperavam ainda encilhados, à soga. Não dispensamos às chinocas as mesuras da despedida, a tirada de nossos chapéus de abas largas, que os colocamos sobre o peito como sinal de pleno agrado, enquanto elas nos abanavam até ganharmos a entrada de acesso a Barreira, um guapeca nos prosseguia   latindo.
Conversa vai, conversa vem durante o trotear macio dos animais no longo caminho de volta à Fazenda Morungava. E foi no relato daquela grande noitada, nas narrações incontidas e minuciosas, nas gargalhadas estrondosas, nas costuras das coincidências… que eu, Pedrinho Gaúcho, (barbaridade tchê), tive conhecimento de que Silas  (meu grande companheiro), passou toda aquela noite com Consuelo, minha prima, filha caçula do tio Ernesto Cavalcanti, fazia uma boa quantidade de anos que não à via, quando sai de casa, era apenas uma menina-moça.
– Credo, homem de Deus, que destino hein?! – disse eu a Silas apertando, constrangido, mas ponha constrangimento nisso, a aba do meu chapéu de barbicacho, enquanto ele baixava os olhos, meneando a cabeça, entre incrédulo e por demais embaraçado! Arre;
Quero passar a vocês, alguns ditos tropeiros que usei nesta narrativa:
meia guampa: Meio embriagado, meio ébrio.  * Arrastar as asas: Paquerar.  *Guapeca : Cão sem raça definida; vadio,  desobediente.  *Soga: corda. *Cofio: alisar o bigode.  *Pechei: ajuda financeira. *Barbicacho: É a tira de couro, que prendia o chapéu ao queixo ou ao nariz dos antigos gaúchos. 
Um até breve do Heron ,ou melhor do Pedrinho Gaúcho, pois o escrevinhador, que assina esta pequena apresentação, tem muitos casos pra narrar, sobre minha pessoa!!!

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