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domingo, 20 de abril de 2014

RESGATANDO NOSSAS RAIZES...



Sabe quando você se debruça sobre a janela da sala, e ficando olhando a rua? Os carros passando, as pessoas caminhando em sentidos contrários, às vezes esbarrando aos ombros das outras. Existem aqueles que estão apressados, outros já não mais precisam correr. Alguns meninos carregam consigo a algazarra que pretendem levar à escola e desorientar o já desorientado professor. Não importa muito como é sua rua, provavelmente é diferente da minha e até mesmo do seu vizinho. Mas, aposto que um dia (ou alguns deles), quando se debruçava e fixava o olhar para o nada, lá longe, e começar a imaginar como seria este pedacinho de território antes da cidade se formar em prédios, casas, ruas, asfalto, poste, placas… Imaginar a época dos tropeiros e como eram suas rotinas de viagens. Ah, naquela época, viagem era para pessoas no mínimo muito dispostas. Encarar um caminho desconhecido, sujeito a encontrar algum animal peçonhento, onça ou até mesmo  personagens das fabulosas estórias da mula sem cabeça, lobisomem, corpo seco, saci etc...   Armar acampamento no meio da chuva, economizando os últimos feixes de claridade que conseguem transpor a densa nuvem cinzenta e as  folhas do cerrado com suas arvores retorcidas. Enquanto alguns fincam as estacas e amarram em árvores as cordas das tendas, outros tropeiros tratam de recolher o que acham de galho menos molhados para acender o fogo na trempe com a chaleira com  água para o café e começar  a esquentar o feijão e a carne de lata, acompanhada de paçoca para o rango, outro se abrigando com a capa de lã para a ronda da tropa para enfrentar uma noite de chuva,  no primeiro pouso da Fazenda São Pedro do Itararé, o primeiro pouso do torrão paulista entre os rios Caiçara e do Prata, o Pouso da Rondinha, hoje a nossa lendária e querida Itararé.  Assim que depois daquela trabalheira e a barriga satisfeita, um certo violeiro apanha de seu saco de estopa pendurado na cangalha da mula  abrigada no ranchinho coberto de sapé , a violinha que dará o tom da alegria e anunciará o fim da noite. Momentos de cantoria e diversão sentados ao pé do fogo. Uns contam mentiras, outros só fantasiam, existem àqueles que adaptam suas estórias para facilitar o entendimento dos companheiros. Mas tudo isso, com a melhor das intenções, narrar só aquilo que viram ou viveram e aqueles que narram o inexplicável, é aí que começam as crendices.   Antes de por a tropa para tanger rumo as Feiras de Sorocaba, os tropeiros, vão até o Corredor da Cruz, rezar ao pé da Santa Cruz, (atual Capela de Santa Cruz),  pedir  a Nossa Senhora Aparecida, protetora dos tropeiros, que os abençoe, para mais um dia de trabalho de  uma vida  simples, rude e nobre, o tropeiro não se atinha, de sua importância desbravadora, para o desenvolvimento do Brasil Meridional.  Do imaginário  exposto podemos concluir que os tropeiros e as tropas desempenharam no Brasil , um papel dos mais relevantes, quer como realizadores do progresso econômico, quer como incentivadores da unidade nacional.    
Conquistada a terra, com os núcleos de ocupação perdidos na vastidão, foi o    Tropeiro e a tropa de muares que, varando sertões e ravinas, rasgando matas, cruzando serras, vadeando rios, que assegurou  e manteve, a circulação de produtos, de bens e de ideias.
Itararé, por ser o primeiro pouso do Estado de São Paulo;  tropeiros paulista começaram a vir comprar lotes de muares  e picar (vender) na região sudeste de São Paulo.     Sorocaba, por sua posição estratégica, tornou-se o centro natural de encontro dos tropeiros e nada mais justo que a cidade, conhecida em todo o Brasil, coubesse a gratificante incumbência de reverenciar e enaltecer este herói anônimo: Em 1963, a Lei Municipal Nº 1151, de 14/10/63, autoria do vereador Hélio Teixeira Callado, tornava oficial a comemoração criando A Semana do Tropeiro,  fixando a época de realização na segunda quinzena de maio, atendendo à orientação do historiador Aluísio de Almeida, de que esta seria a época mais provável da realização das feiras de muares.
Se em meados do século XVIII, quando teve início este significativo ciclo histórico, coube aos sorocabanos o privilégio de servir de entreposto de mercadoria altamente desejada e de local de encontro não só de brasileiros de todas as regiões como de estrangeiros.   E coincidentemente nos meados do século XXI, coube à Itararé, o resgate do Caminho das Tropas, como o 1º pouso paulista dos tropeiros e  compartilhando como os demais municípios, até o seu final: As feiras de Sorocaba.
Cabe-nos agora, a responsabilidade de divulgar junto às novas gerações a grandiosidade de sua obra, a pujança de sua figura intimorata, para que todos juntos possamos reverenciar o Tropeiro, o lídimo representante de nossa gente, o homem.
Imagem  acima : 1º. Pouso Tropeiro do Estado de São Paulo de Tropas de Mulas Xucras, tangidas dos campos de Viamão às Feiras de Sorocaba.  Aquarela- Acampamento  noturno de Itararé -Pouso da Rondinha -Fazenda São Pedro  do Itararé- Jean Baptiste Debret- 1827.(Publicada em 1839- no livro: VOYAGE POTORESQUE AU BRÉSIL).

 



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