PROCIÁ EM ITARARÊS
Faz algum tempo que não se tem um caso, de nossos caipiras, falando o itararês. Vamos narrar um caso, lá pras bandas da Serrinha, Caminho dos Picadores de Tropas no município de Itararé. É um caso de um dia de trabalho de dois irmãos, vivida há muitos anos atrás, inicio do século 20, que conversavam com simplicidade, já tinha-se a peculiaridade do linguajar, nessa época em nossa terra do itararês. Os irmãos, moravam em um ranchinho nas redondezas da Fazenda Java, que pertencia ao casal Capitão Camilo Bueno Pimentel e Escolástica Ferreira de Mello Pimentel. JAVA, era o termo usado para quem se referia ao café, a origem da palavra java da variedade do café data-se de cerca de 200 anos atrás, quando os colonizadores holandeses iniciaram plantações de café nas ilhas de Java, onde hoje é a Indonésia. Capitão Camilo, gostou do nome para dar a sua fazenda. Na época Itararé tinha em seu município cerca de 1 milhão e quinhentos mil pés de café em produção. Na Fazenda Java, plantavam outra variedade de café o Mocha (pronuncia -se Moca, e em árabe, segundo o Mestre Jorge Chueri, "al-Mukhā") é uma variedade nobre de café da espécie arábica que provinha do porto de Moca. A Java, itarareense era o orgulho do Capitão Camilo, seu pedaço de terra, sua vida! Com seu caráter bondoso, honesto, honrado, mas ao mesmo tempo, severo, rigoroso e justo, formou um imenso patrimônio que administrava com grande capacidade e energia herdada de seu pai. Dedicou-se especialmente à cultura do café, mas se produzia de tudo, arroz, feijão, mandioca, batata, algodão... Tudo no serviço braçal, até o leite ( para consumo da família e empregados) era tirado com as mãos, ou como na época, expressavam no 'muqui". A foto acima era a sede da Fazenda Java em 1890. Na Fazenda JAVA, uma vida de muito trabalho e grandes realizações chegou ao fim. No dia 10/Julho/1922, falecia o Cel. CAMILLO BUENO PIMENTEL, deixando um grande vazio no coração dos 10 filhos e netos, A edição do Jornal “O Itararé” de 16/07/1922 deu a notícia numa reportagem falando sobre sua pessoa, seus filhos, o quanto era estimado por todos e ligado por laços de sangue com muitas pessoas da região de Itararé, Itapeva e Itaberá. No dia seguinte deu-se o seu enterro em Itararé com grande acompanhamento. Seu filho, o ALÍPIO PIMENTEL, comerciante, depois do falecimento de seu pai, assumiu a direção da fazenda JAVA junto com Dona Escolástica que valentemente continuou cuidando dos encargos da casa e dos empregados da fazenda. Ela era de uma aparência frágil, pequena por fora, mas um gigante por dentro. Os dois caipiras que falavam o Itararês que no começo desde caso referi, chamavam Benedito Sinhô dos Anjos (Dito Sinhô) e o do irmão Liberato Sinhô dos Anjos, eram filhos dos escravos libertos Silvério e Maria Onória, eram remunerados para a labuta nas lavouras, mas para ganhar em troca de dois litros de leite, faziam a ordenha do gado, como dizia, o Dito Sinhô : -nóis gustava di misturá u leiti cum farinha di miu i cum açúca di bola. Vamos ao caso sobre o itararês, da tarefa diária que faziam na fazenda Java, contada pelo Dito Sinhô: U CAFÉ I U FUMU: "Nóis levantemu cedu, tomemu café i fumu u leiti tira, dispois sortemu as vaca nu pastu i limpemu u currá, Us bezerru forum cum as vaca prá mamá, nóis peguemu u leite i bebemu cum café e viradu di fejão i ovu fritu i fumu prá roça trabaiá, A hora qui chegu u almoçu nóis comemu i tomamu café i fumu descançá, continuemu nossu trabaiu até a merenda da tardi chegá, era inhami, mandioca cum açuca i bolo di fubá, sentemu numa pedra i bebemu café i fumu pitá, até as cincu da tardi a tarefa tinha qui cabá, vortemu prá casa, tomemu banhu i fumu dispois discançá, comemu a sobremesa qui era doci di laranja i maracujá, tomemu mais café i fumu liga u rádiu di mordi a musica escuitá, dispois di discançadu não tomamu café i fumu prá cama deitá. Levantemu bem cedu, tomemu café i fumu di novu sassaricá i trabaiá.
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