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sábado, 21 de março de 2015

UTOPIA ELEITORAL

Mais uma eleição municipal em Itararé. Mario Beato, como era conhecido nos bairros,   da zona rural de Itararé, havia-se decidido que seria candidato a vereador desta vez. A política estava na veia e no sangue da família. Seu bisavô tinha sido candidato a vereador e tinha logrado a honrosa 4ª suplência, seu avô também, conseguira feito maior, conseguiu ficar na 1ª suplência. Seu pai era o mais famoso cabo eleitoral  e sempre prometia conseguir votos para eleger 3 vereadores. O mais longe que conseguiu chegar perto disso foi a façanha de apoiar um candidato que chegou a ser 4º suplente da coligação em um total de 28 candidatos. Eram políticos natos.     O único empecilho era sua sogra. Precisava convencer a velha a apoiá-lo e mais, a não revelar coisas tenebrosas a seu respeito. Se conseguisse o voto e apoio de Dona Memé, a eleição seria um passeio. Honraria a história de eleições gloriosas de seus ancestrais.   Preparou o discurso e saiu em direção à casa da sogra com um ramalhete de flores arranjado de última hora colhido no cemitério, próximo a redondezas da casa de Memé.  Colocou sua melhor roupa como quem fosse à missa do padre Teotónio na igreja Matriz.    Óculos espelhados no rosto e caminhar confiante Mario Beato,  foi ensaiando cada palavra declamada nos mais puris versos caipiras a ser dita para nada dar errado. Afinal, era a honra da família na política que estava em jogo.   Ao chegar foi logo dando um grito meloso de “sogrinhaaaaaa amadaaaaa” para a surpresa de todos. Ao entregar o ramalhete de flores, a velha Memé logo desconfiou que algo de errado havia acontecido; ele era tão sovina que usava o papel higiênico dos dois lados, e comprar flores para seu principal e maior desafeto, hummm, ali tinha coisa. E coisa das grandes.   Depois de quase duas horas de conversa tentando explicar seus planos, falar da herança genética de seus antepassados na política itararéense  e declamar no repente versos de afeto,  a cartada final de prometer empregar a velha e todos os seus  parentes desempregados na Câmara Municipal ou na prefeitura de Itararé. Dona Memé cedeu e disse que apoiaria a candidatura a vereador de Mario Beato, silenciando a respeito dos trambiques do rapaz e pedindo votos para os mais chegados.      Só tinha um único problema, disse a megera, de onde viria o dinheiro para campanha, como ele iria confeccionar adesivos, bandeiras, santinhos, praguinhas, camisas, pagar cabo eleitoral, combustível de carreata e ajudar o povo pobre do bairro se ele mesmo devia até a alma em todas as quitandas, botecos e muquifos de Itararé?   Ele mesmo garantiu que tinha umas economias guardadas e que era chegada a hora de dar um salto de qualidade de vida para todos na família. Pediu que a velha assinasse um papel de filiação partidária e os outros 40 parentes também para dar apoio na convenção do partido e saiu saltitante.   Dias depois foi visto pagando rodada de pinga para todos os que se encontravam no bar do Ari Bolinha, na Osório,   que já havia cansado de cobrar os pregos deixados por Mario Beato. Para a sua surpresa, Mario,  saldou a dívida, deixou um dinheiro a mais e fez a festa de todos naquela tarde de comes e bebes na conta do futuro vereador representante da zona rural. e das Vilas e bairros da cidade.    De uma hora para a outra as contas de Mario Beato ,  foram saldadas, dinheiro a fole aparecia como se ele tivesse ganhado na loteria federal. Comitê eleitoral com fotos gigantescas do rapaz que havia até rejuvenescido um bocado de anos. Tratou os dentes, passou a andar todo engomado, tinha assessoria de imprensa, relações públicas e fotógrafo particular. Deu uma chácara a um correligionário. Dona Memé ficava cada dia mais desconfiada com tanta competência do genro que vivia de pequenos trambiques e cuja única virtude foi ter se casado com sua filha, a Emengarda, moça prendada e trabalhadora.    Cada dia que passava mais cartazes, faixas, bandeiras, adesivos, cabos eleitorais, tudo começava a se avolumar em torno da candidatura de Mario,  que já sonhava ser o vereador mais votado da cidade e um trampolim para ser o chefe do executivo itarareense;    Último comício antes das eleições, praça São Pedro topada, bandeiras tremulando, gente apinhada para ouvir os políticos da cidade e lá vai Mario Beato, para seu discurso final. Cada palavra do seu repente era ordem lançada a multidão comandada pela claque que pedia palmas e assoviava gritava bem alto o nome daquele que já se consagrava o vereador mais bem votado de toda a história de Itararé: “Mario Beato, o meu, o seu o nosso candidato.” Os jingles da campanha pagos a preço de ouro para as maiores bandas e dupla sertanejas,  davam conta de que o rapaz não tinha economizado na sua missão política.  Dia da eleição. Tudo pronto. Encerrada a votação. Aglomeração na casa de Mario Beato dos cabos eleitorais para receber seus pagamentos. Festa antecipada, pinga para todo mundo. Sogra ainda em silêncio e cada vez mais desconfiada de onde teria vindo aquele dinheiro todo.   Urnas abertas. Mario Beato tinha ficado na 2ª suplência da coligação. Tristeza geral. Os eleitores haviam lhe traído. Todos os votos comprados e conquistados na base da pinga, do bujão, da dentadura, do padrão de luz, do milheiro de tijolo, das telhas de Eternit, dos caminhões de terra e areia, haviam migrado para outros candidatos naquelas megeras urnas.     Dia seguinte ninguém viu mais a figura de Mario Beato pelas redondezas. Dona Memé, a sogrinha amada, e seus sete parentes desempregados recebem a notificação do banco para pagar os empréstimos milionários feitos em nome deles por um cidadão bem vestido, fala mansa e articulada que seria o vereador mais votado da história de Itararé.              Mario Beato e sua sogra Dona Memé,  são nomes fictícios;  Mas, é só o caro eleitor itarareense, principalmente os mais antigos "puxar" pela sua memória..... Veras que realmente o nosso caso, é verídico e a carapuça serve para muitos  e  ocorreu na politica de Itararé. 


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