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sexta-feira, 6 de março de 2015

VISITAS...




Sou do tempo em que ainda se faziam visitas. Lembro-me de minha esposa Beth, mandando  os filhos  capricharem no banho porque a família toda iria visitar os tios João Tatit e Eunice de Brito Tatit.  Íamos todos juntos, todo mundo a pé. Geralmente, à tardinha.   Ninguém avisava nada, o costume era chegar de paraquedas mesmo. E os donos da casa recebiam alegres a visita.  – Mas vamos nos assentar, gente. Que surpresa agradável!, dizia Dona Eunice.  A conversa rolava solta na sala. Eu, conversando com o João Tatit e minha esposa de papo com a tia… Meus filhos Tatiana e Fernando ficavam  assentados no  mesmo sofá, entreolhavam e olhando a casa dos Tios . Retratos na parede, duas imagens de santos numa cantoneira, o piano, o violino (que a tia Eunice tocava),  radio- vitrola  Philips;    flores na mesinha de centro… casa singela e acolhedora. A nossa também era assim.   Também eram assim as visitas, singelas e acolhedoras. Tão acolhedoras que era também costume servir um bom café aos visitantes. Como um anjo benfazejo, surgia a Sonia, cozinheira    prendada,   lá da cozinha e dizia: – Gente, vem aqui pra dentro que o café está na mesa. Tratava-se de uma metonímia gastronômica. O café era apenas uma parte: pães, bolo, broas, queijo fresco, manteiga, biscoitos, leite,  doces caseiros; de cidra morangos, amora... tudo sobre a mesa.  Juntava todo mundo e as piadas pipocavam. As gargalhadas também. Pra que televisão? Pra que rua? Pra que droga? A vida estava ali, no riso, no café, na conversa, no abraço, na esperança… Era a vida respingando eternidade nos momentos que acabam…. era a vida transbordando simplicidade, alegria e amizade…  Quando saíamos, os donos da casa ficavam à porta até que virássemos a esquina . Ainda nos acenávamos. E voltávamos para casa, caminhada muitas vezes longa, sem carro, mas com o coração aquecido pela ternura e pela acolhida. Era assim também lá em casa. Recebíamos as visitas com o coração em festa.. A mesma alegria se repetia. Quando iam embora,  Também ficávamos, a família toda, à porta. Olhávamos, olhávamos… até que sumissem no horizonte do entardecer . O tempo passou e muitos se transformaram  em solidão. Hoje, se tem em nossas casas bons professores: televisão, vídeo, DVD, célular, e-mail, face book... vivemos em uma sociedade virtual;  Cada um na sua e ninguém na de ninguém. Não se recebe mais em casa. Agora, principalmente os adolescentes,  combinam  encontros pelo celular,  com os amigos fora de casa: – Vamos marcar uma saída!… – ninguém quer entrar mais.  Assim, as casas vão se transformando em túmulos sem epitáfios, que escondem mortos anônimos e possibilidades enterradas. Cemitério urbano, onde perambulam zumbis e fantasmas mais assustados que assustadores.  Casas trancadas.. Pra que abrir?  O ladrão pode entrar e roubar a lembrança do café, dos pães, do bolo, das broas, do queijo fresco, da manteiga, dos doces caseiros,  dos biscoitos,  do leite…. Não só familiares eram recebidos dessa maneira por muitas famílias de Itararé; Os compadres e comadres, os amigos de nossos filhos e   faziam periodicamente essas visitas e eram recebidos, com um café de uma mesa farta, como se diziam: "Tomar café com as duas mãos".  Só nos restou saudades das pessoas queridas; amigos,  familiares, compadres e comadres, que abriam suas casas. Embora, a virtualidade das pessoas impere, nos dias atuais;  Ser receptivo é uma das maiores qualidade de vida de um ser humano. Tenho a convicção, não generalizando,  tem  muitas famílias receptivas e persistentes,   que  acolhem  singelamente  e com muito amor; Seus entes queridos e amigos,  no aconchego de suas casas.  As visitas na roça  antigamente  eram assim em Itararé, lá pras bandas  de Santa Cruz dos Lopes :  Visita pro compadre e tendo intimidade, entrou em sua casa sem bater.  O compadre estava sentado, na beira do fogão  escutando rádio, o compadre cumprimenta: Oi cumpadre, escuitano uma novela? O compadre responde: Nada sô , futebor, Sum Paulu e Corintiá;   A chaleira já tá chiando, cumpadre, vamu toma um café do bão, eu memo queimu lata, vou prepara um viradinhu di feijão com ovu fritu, Mai qui visita boa carece um café du bão, vamu toma, no rabu du fogão. Seu meninu tá bão?   Cumé qui vai a cumadri Narcisa?  Já devi ter paridu. já tem muitu tempu qui num veju  a sua muié.   Puxa logu  o banquinhu vamu nóis prociá e toma  café.   Se quisé uma branquinha tá du ladu da muringa, acabei di guarda .  Presta o canivete pra modi fumu eu picá. Caça ai nu balaiu uma paiá fininha pra nói doi fumá.  Etá chuva mansinha antionti caiu.  Tava bem presisandu inté a prantação pareci qui sorriu.   Mai im Sum Paulu, choveu pra chuchu, mai na torneia, água teima em fartá. Pois é compadre, eu tô bão da conta, morando eu i Deus, mai acabrunhadu, dês  que Chiquinha foi embora,a felicidade tamém partiu, os fios côs netos tão moranu na cidadi.   Só vivu matutandu e tô carecendu  prosiá, conta as novidadis du nossu arraiá.  Intão tá bão. Oiça, o qui vou contá pra vancê ... 

Frase de itarareense: " A MULHER FOI FEITA DA COSTELA; IMAGINA SE FOSSE FEITA DO FILÉ" ( Zé Fiuza).

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