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domingo, 9 de março de 2014

"Yo no creo en las brujas, pero que las hay, las hay"

                                                                                                   Turíbio Fiuza, era uma pessoa popular e folclórica de Itararé. Rei do Carnaval de Itararé.  O  Zunir Pereira de Andrade, em parcerias com Roberto Gomes de Camargo (Kai'água ) e Jorge Chueri, compuseram   uma marchinha de carnaval:  "Procurando  o
Turíbio". Em alusão à  uma "disputa", saudável, entre o Clube Atlético Fronteira e o Primeirão, para tê-lo em seus salões nas quatros noites de carnaval.  A marchinha em um dos estrofes   dizia  assim: *Turíbio é  um cara bacana * Turíbio é um cara legal. *Queremos você hó...Turíbio * Aqui no nosso carnaval.     Além de ser o folião mor dos carnavais itarareense, era boêmio, tocava violão,  a sua interpretação na musica "Abismo de Rosas", não perdia nada para a de Dilermando Reis; um exímio pasteleiro, isso mesmo, seus pasteis até a data de hoje são lembrados, por muita gente da terrinha.   Seu hobby,  jogo de baralho e briga de galos.   Outro lado do perfil do Turíbio: supersticioso e azarado, seu azar era de origem maligna, é  nesse lado místico e folclórico que iremo focar.
Mesmo o mais cético dos seres já deve ter incorrido em pequenos deslizes, tais como: bater na madeira três vezes para evitar que algo que é dito e que tem conotação negativa, ocorra de fato; cortar bolo de aniversário de baixo para cima para dar sorte; evitar passar por baixo de escadas... Enfim, uma série de atitudes realizadas mesmo sem pensar, originadas a partir do famoso “inconsciente coletivo” -, ou mesmo de forma consciente pois, afinal de contas, se bem não fizer, mal também não faz. E, na dúvida, é melhor “não mexer” com forças que nem a ciência explica. Já dizia a máxima: “Eu não creio em bruxas, mas que elas existem, existem”.    Convivi por muitos anos com o Turíbio no Clube Atlético Fronteiras, eu, concessionário do bar e o Turíbio, cacifeiro dos jogos de baralho.  Sempre abordava suas superstições e azares. Anotei muitas delas, nessa época que passamos noites no atendimento dos jogadores que frequentavam as salas de jogos.
Gato pretoGato preto:  Certa feita em um final de semana, o Turíbio, chega nervoso e cabisbaixo  para mais um dia de trabalho, e ele nos conta que logo cedo deu de cara com um gato preto, alguma coisa vai  me acontecer!!!    Para formar um carteado de pife-pafe, geralmente o cacifeiro participa do inicio do jogo a espera de mais parceiros e não deu outra, logo na primeira cartada o nosso herói começa a perder. E como a maioria dos jogadores de baralho, quando se esta perdendo não para, sempre esperando a cartada seguinte para recuperar as jogadas perdidas e com ela dinheiro, que aliais é a parte mais dolorida de um ser humano, o bolso.    A cada "cartada perdida" esbravejava: Foi esse maldito gato preto, enviado pelo o demônio que me esta dando tanto azar, e algumas palavras impublicáveis. O único jogador que perdeu foi o Turíbio, os outros quatros  parceiros foram os ganhadores ou melhor dizendo, sortudos.     A ideia de que encontrar gatos pretos, pelo caminho, dá azar veio da idade média. Acreditava-se que os felinos, devido aos seus hábitos noturnos, tinham relação com o demônio. E se fossem pretos (cor associada à trevas), pior ainda. Acreditava-se que eles se transformavam em bruxas. Num tempo em que imperava o medo das forças malignas e os direitos dos animais era algo impensável, muitos pobres bichanos eram massacrados sem dó. Até o próprio Papa Inocêncio VIII (1432-1492) chegou a incluir os gatos na lista de perseguidos pela Inquisição. É possível que essa “fixação” que a Inquisição teve pelos gatos tenha relação com o fato dos gatos serem símbolos importantes na crença pagã, e que por essa razão deviam ser combatidos. Os egípcios, por exemplo, consideravam o gatos como divindades. Na sala de jogos de baralho Turíbio,
perdendo blasfemava até de Jesus Cristo.  No dia seguinte ficava horas  de joelho na Igreja Matriz, rezando e pedindo perdão, pelo seus atos, motivados pelos os azares que acompanhavam-os.
                                                                                                                              
Ferradura: Turíbio, tinha duas ferraduras, penduradas em cima da porta da  cocheira dos galos de briga, colocadas pelo seu filho Honorato, uma voltada para cima e outra voltada para baixo. O Turíbio não gostou que uma das ferraduras fosse colocada para baixo. É oportuno salientar, que foram fixas  aleatoriamente. Na cultura popular a posição da ferradura pode variar sendo pendurada para cima ou para baixo. A ferradura apontando para cima funciona como um copo para pegar boa sorte e ficar presente na casa das pessoas ou animais  que ali habitam. Já a ferradura pregada para baixo a intenção é que toda a má sorte seja derramada, escoe pelo chão e suma da vida dos moradores.
Após uma "reunião de briga de galos", na rinha de Taquarituba, Turíbio, levou um único galo (o melhor de sua cocheira), emparelhou com um galo famoso, da cidade de Avaré, de propriedade do Firmino Gabriel.  As apostas eram dobradas no galo de Avaré.  Apesar de mal lida (condições físicas), o galo do Turíbio matou  seu adversário em 5 minutos de briga.  Os galistas presentes, ofereceram ofertas irrecusáveis pelo galo.  Turíbio, recusou a todas.   De volta para Itararé, naquele tempo a estrada não era asfaltada e imaginem a buraqueira e a trepidação do carro.  Nas  companhias  de Lies Merege, Ozico Paiva, Clodoaldo e Luiz Santeiro e  como  motorista o Pingo Mazorca, que também era galista.  Pararam na Reta Grande, para tirar " água do joelho", depararam com o porta malas do carro aberto e quando deram "por conta", cadê o galo do Turíbio, tinha caído ao longo da estrada.   Resolveram voltar até a rinha e nada de encontrar o galo que o Turíbio  rejeitou um bom dinheiro.
Em Ponta Grossa, também em uma reunião de brigas de galos , lá estava o Turíbio, eufórico pelo desempenho de seu galo, contra o galo de um dos maiores galista do Paraná Ademar Uliana; as aposta dobravam a favor do galo do Turíbio.   Queriam compra-lo com o galo brigando acontecesse qualquer imprevisto o galo já teria sido comprado e por um bom dinheiro.   Turíbio recusou. A briga estava praticamente ganha seu galo tinha extrasaliado seu oponente, cego das duas vistas, asa quebrada; o juiz da briga vendo as condições do galo, perguntou aos apostadores que opunham-se  de encerrar a briga,  sobre a recusa de alguns apostadores  o juiz deu sequência ao confronto.   Naquela época a iluminação publica de Ponta Grossa era movida a motores a óleo diesel, localizados em vários lugares da cidade: em determinado tempo, a iluminação era interrompida para troca de motor  e a  iluminação foi interrompida na hora em que os galos brigavam.   Quando as luz voltou a rinha, para surpresa de todos, o galo do Turíbio tinha levado um golpe mortal de seu oponente.
De volta, para sua casa a primeira providência que tomou foi arrancar a ferradura que estava voltada para baixo e disse: Foi esta ferradura do diabo, colocada do lado errado que me deu azar!!!    Em uma pescaria no  rio Itararé (Poço da Cruz). somente  o  seu companheiro Nhô Flor,que estava enchendo o "borná" de bagres, era um atrás do outro , o Turíbio nem uma fisgada, já praguejando de não fisgar um bagre sequer, repentinamente um a puxada que a linha correu contra a correnteza, ( na Barreira,  os pescadores não usam vara para pescar  e sim "linha de mão), o Turíbio começa a enrolar a linha, para trazer o peixe até em cima do paredão e para confirma que o azar o acompanha tinha fisgado uma ratazana; quando jogou a linhada, a isca caiu em um lapa de pedra na margem oposta do rio.   
E pra finalizar,  frases sempre ditas pelo Turíbio: "Se eu comprar um circo, o anão cresce"  " Se eu jogar uma moeda para o alto  e pedir cara ou coroa, ela cai em pé". 

Antônio de Fazio Neto





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