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terça-feira, 1 de julho de 2014

O GALO CAPÃO !!!

 

José Severino  Silva, conhecido como Zé da Milóca, é desses homens caprichosos, sitio bem bonito, bem cuidado, cerca de arame com os palanques caiados de branco, com a parte enterrada com tratamento para não apodrecer. pomar também com os troncos das árvores caiados de branco e bem carpido, gado mestiço holandês, sempre sadio e roliço, chiqueiro com aqueles porcões cor de rosa e porquinhos caipiras.   A bomba d'água cabeçuda, batendo dia e noite e dando sua golfadas de água para toda a criação.   A galinhada solta no terreiro correndo atrás das tanajuras, era uma verdadeira festa naquela  mistura de raças.   Tinha carijó, pescoço pelado, garnisé,  galo índio, pato, marreco, peru, galinha d'angola e outros bichos de pena e bico.   O Zé da Milóca, parecia uma tabua bem aplanadinha quando visto por trás.   O seu andar rápido e elétrico o livrou de muitas picada de cobras.  Sua mulher Dona Maria  Aparecida da Silva, nos conta que uma jararaca ao tentar acertar sua perna e errar o bote; foi num trilho de gado, na beira do riacho do Barreirinho, nome também dado a um bairro, da nossa querida Itararé.  O homem também tinha outra coisa que fazia com esmero e carinho capar porcos... Seu canivete Solingen, com talas do cabo de chifre bem polidos, estava sempre bem afiadíssimo, cobiçado por capadores da redondeza.   Era um verdadeiro instrumento cirúrgico o tal Solingen , inseparável de sua bainha de couro.      Zé da Milóca, é um homem muito brincalhão, estava sempre aprontando das suas.   Dizia-se que ele  tinha um pouco dos espirito dos porcos que capava.  Na beira de um rio, era impossível continuar-se a pescar à partir do momento que ele resolvesse  que a pescaria tinha acabado.   Jogava lata no rio, ficava praticando tiro ao alvo com uma garrucha de dois canos, do tempo que se amarrava linguiça em cachorro, na ceva, batia o pé no chão, e fazia de tudo para atrapalhar aqueles que sempre tinham esperança de fisgar um peixe, para não voltar de mãos abanando.  Certa feita estava ele, sentado na varanda da cozinha de sua casa (vocês já repararam, que na roça, varanda na porta da  sala, serve somente para juntar folhas secas?), olhando a galinhada ficou invocado com o galo  que teimava  brigar com tudo quanto era galo que chegava  por perto.       E foi aí que uma ideia maluca, começou a tomar conta de sua cabeça.   Quando Dona Maria, sua esposa foi limpar um frangão quase galo, ele ficou remexendo na parte íntima  do tal com a ponta de seu Solingen.   No sábado, após terminar o giro pelo sitio, ele pegou uma espiga de milho e começou a debulhar, chamando a galinhada; num bote certeiro ele pegou o galo  pelas pernas e foi uma gritaria só.   Amarrou as pernas do tal, com uma colher foi lhe enfiando pinga pela  goela abaixo.   Quando o galo estava bem bêbado, ele deu um toque final na afiação do Solingen em uma tira de couro; depois vez dois cortes na costa do galo, bem próximo do rabo, e com muito cuidado retirou dois baguinhos e jogou pro garnisé refestelar-se: desinfetou,  costurou os cortes e soltou o bicho.   Passada a bebedeira, o galo ficou de ressaca por uns dois dias, após começou a mudar seu comportamento.   Parou de brigar com os seus rivais, não quis mais saber de correr atrás de galinha, com o tempo foi ficando mais vistoso, cuidadoso com suas penas que ajeitava uma a uma com bico, num ritual interminável.       No segundo mês o tal já estava cuidando de uma ninhada de pintainhos e não deixou morrer nenhum, ostentava duas grande esporas  que o ajudava a fulgentar os bichos que por ventura, fosse perturbar os seu protegidos: o gato de estimação de sua filha Suzete, foi umas de suas vitimas levando uma esporada em uma da pernas trazeira, deixando-o manco.   Ninguém esperava que o galo capão ficasse, tão dócil, com todo com todo o tipo de cria, passou  adotar peru, galinha d'angola e até marreco.   E foi daí que em pouco tempo, não houvesse fazenda, sitio  ou chácara, nas redondezas que não tivesse um galo capão.    Já pensaram se a moda pega  nos humanos.   Na boca pequena, corre o boato e  comenta-se quando a gente vê um homão grandão de meia idade e peludo, correndo atrás de crianças pra cima e pra  baixo,  com maior cuidado e carinho, tem logo alguém que diz: Olha lá, o Galo Capão!!!

Antônio de Fazio Neto 

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