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quarta-feira, 27 de março de 2019

LENDA DA ZAGAIA




Lenda ou não, a história da Zagaia é muito conhecida no caminho tropeiro de Viamão (RS) a Minas Gerais.  Conto a versão do Quinzo Gabriel filho de meu tio bisavô Capitão Eugênio Gabriel, foi tropeiro e grande conhecedor de suas histórias.  Enquanto na região das minas, as pessoas estavam voltadas para a abundância da extração de ouro e diamantes, a produção de alimentos era escassa, para suprir as suas necessidades. Os tropeiros tiveram grande importância econômica, pois, além de animais trazidos do Rio Grande do Sul, faziam também o comércio de charque, , toucinho, farinha, rapaduras e queijos, que eram transportados em bruacas(bolsa de couro) em lombos principalmente de muares, ou carros de bois, em caixotes de madeira.   Certa vez, um tropeiro e dois filhos empreenderam viagem, levando além das mulas, três carros, puxados por várias juntas de bois, conduzidos por peões  que também tratavam de fazer o carregamento das cargas nos mesmos. Haviam partido do Desemboque, cidade, à época, com quase três mil habitantes, considerada a mais próspera da região, onde existia um entreposto comercial. O destino dos tropeiros era São João Del Rei, aonde chegariam ao fim de um mês. Em certa parte do caminho, na rota dos viajantes, ficava a fazenda da Zagaia. Passados alguns meses os tropeiros não retornaram da empreitada. Então, o filho mais novo reuniu alguns homens, preparou um carregamento e seguiu viagem com o intuito de descobrir o paradeiro do pai e dos irmãos. Durante o trajeto, indagava, e a última notícia que o rapaz tivera, é que eles haviam sido vistos perto da Serra da Canastra, a poucas léguas do Sertão da Farinha Podre, antigo nome de uma área que hoje é a cidade de Sacramento e parte do Triângulo Mineiro.   Depois de muitas léguas, resolveram pernoitar e o único local para descanso era a fazenda Zagaia. Aquela propriedade solitária funcionava como estalagem para viajantes. Os proprietários deram abrigo a toda a tropa, mas ao serem indagados, não souberam informar nada sobre o tropeiro desaparecido.   A refeição foi servida por uma jovem escrava, esta encantou o tropeiro com a sua beleza e bons modos e por conta disso, antes de seguir viagem, ele a encontrou a na cozinha, a presenteou com um corte de chita e um pedaço de fumo de rolo. Combinou vê-la outra vez, em sua volta. Da janela, a moça espiava com olhar triste, a tropa se afastando e sumindo na estrada do chapadão.  Semanas depois, os tropeiros retornavam já com o dinheiro da venda dos produtos e foram convidados pelos donos da fazenda a pousar ali. A escrava, ao ver de volta o rapaz pelo qual havia se afeiçoado, chamou-o a um canto dizendo a ele que, à noite se deitasse debaixo da cama indicada pela fazendeira e não sobre a cama. Não queria falar mais nada, rogou-lhe que só fizesse o que lhe pedia.  Estranhando tal pedido, e vendo-a aos prantos, o rapaz desconfiou que algo muito ruim estivesse por acontecer. Tanto insistiu que ela acabou contando o segredo da Fazenda Zagaia. Aterrorizado, ele soube pela escrava, do trágico destino do pai e irmãos: quando retornaram com o dinheiro, o proprietário da fazenda os convidou a passarem a noite no quarto maior, pelo preço do menor. O velho tropeiro e seus filhos aceitaram de bom grado, ignoravam que, escondida no teto, havia uma zagaia pronta para ser lançada sobre eles e dar-lhes o descanso eterno.  A zagaia era uma enorme peça de madeira com grande quantidade de pontas de ferro. Os donos a amarravam logo acima das camas, perto do telhado. A outra ponta da corda ficava no quarto ao lado, onde esperavam. ouvir os hóspedes se mexendo na palha dos colchões, era sinal que já estava na hora… Sem para o seu benfeitor. A noite, o ajudou a se onto do quarto e aguardaram em silêncio, até que os fesconder em outro pazendeiros assassinos acionassem a zagaia. Revoltado, sem pensar duas vezes, o filho do tropeiro quis vingar o pai e os dois irmãos. Antigamente nesses sertões a justiça era feita assim: “Aqui se faz aqui se paga”. Na mesma noite reuniu os camaradas e deu cabo da vida do fazendeiro e de todos os seus comparsas, poupando apenas a escrava, que levou consigo. Assim terminou uma longa série de assassinatos no Chapadão da Canastra. Num precipício perto da fazenda foram encontrados os restos mortais do tropeiro e seus dois filhos, juntamente com as ossadas de centenas de viajantes incautos que por ali passaram e foram vítimas dos assassinos da Fazenda da zagaia
Antonio de Fazio

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