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quarta-feira, 18 de junho de 2014

CAVALO DE PAPELÃO



João Apostólico de Almeida. meu pai e minha santa mãezinha, Maria Celina de Almeida, vieram morar em Itararé, em 1909, nos altos da Osorio, eles contavam que ali, mulas, burros e bois pastavam .   Dali avistava-se a Igreja  de Nsra. da Conceição, não tinha muitas casas, o comercio era lá pra baixo, na antiga Rondinha (Bairro Velho) e depois do cemitério, na  Rua das Tropas -(São Pedro) e da Rua Direita (15 de novembro).   A rua das tropas era bem tortuosa, começava no corredor da Cruz - (R. Santa Cruz), descia a rua do Chafariz (Felipe Mazorca/Adão Rosner),  subia a rua da prefeitura (Djalma Dutra), virava-se a direita- (Dr. Pedro de Alencar) - Passava a  Praça da Matriz ( Cel. Jordão e  contornava a esquerda (Major Queiros),  e alcançava - a rua das Tropas (São Pedro), rumo as feiras de Sorocaba.           Com a construção  da Capela de Nsra. da Conceição, foi projetada uma rua em linha reta ao centro da capela.  Os moradores da época e os tropeiros  chamavam-na de Rua Direita, e também após anos da denominação oficial de General Carneiro em 1894, pelo 1° Intendente de Itararé Brotero José de Almeida, em homenagem do então: "Coronel Antônio Ernesto Gomes Carneiro, que pernoitou em Itararé , na casa do tropeiro Major de Almeida Queiroz, em 20 de novembro de 1893, na madrugada  seguinte,  em mula, partiu para a imensidão dos Campos Gerais,  guiado pelo tropeiro Joaquim Dias Tatit, com destino a Lapa, onde comandou e resistiu, por 26 dias na batalha do "Cerco da Lapa".    Em 7 de fevereiro de 1894, o Herói da Lapa, um dia antes de sua morte foi promovido a General, sem o saber" (Vida e Morte do Tropeiro-Aluísio de Almeida -Editora Martins-São Paulo 1971).   Em alusão a data da  Proclamação da República, a rua General Carneiro,  passou a denominar-se 15 de Novembro.
(A Proclamação da República ocorreu no Rio de Janeiro, então capital do Império, no dia 15 de novembro de 1889, na Praça da Aclamação, hoje Praça da República, quando um grupo de militares do exército brasileiro, liderados pelo marechal Deodoro da Fonseca, deu um golpe de estado, sem o uso de violência, depondo o Imperador, D. Pedro II, e o presidente do Conselho de Ministros do Império, o visconde de Ouro Preto).
Após estes parênteses. Voltemos ao caso:  Eu era o caçula de oito filhos que meus pais  tiveram.  Quando eu tinha 5 anos, meu pai que era peão de tropa, me dera um cavalo de papelão, pintado de branco e marrom, com rédeas e arreios de verdade.   Ele era fixado em um prancheta vermelha. Só que não andava , não troteava e nem galopava, só ficava parado.   O meu cavalo lindo atraiu a garotada da vizinhança que vinham brincar comigo por causa do cavalo.   Nessa época até o números de amigos aumentava. Meu xodó por ele foi tão grande que até nome coloquei: Pintado.  Os meninos, brigavam de bolinha de gude. de pião, de empinar pipa, jogar bola no campinho que tinha atrás de nossa casa, a bola era de pano, feita de meias velhas, de esconde-esconde.  As meninas brincavam de bonecas de pano e papelão, de casinha, de amarelinha, de roda. Os meninos e as meninas só brigavam juntos quando jogavam peteca ou queima-queima. Os amigos de papai, não brincavam, só jogavam truco ou malhas.   Mais eu. gostava mesmo era brincar  com meu cavalinho Pintado.  
Naquela época não existia empregada, como meus pais  foram  uns dos primeiros moradores da Osório, todo mundo dava as filhas e filhos, para com pai. minha querida e santa mãezinha batizar. Como não tinha empregada, sempre tinha uma ou duas afilhadas para ajudar a mãe.
Em um certo dia, exigia eu com minha  petulância de ser a raspa do tacho, mimado, que uma das afilhadas colocasse o meu cavalinho Pintado, em baixo da mangueira, que ficava nos fundos da horta, pertinho da cabeça de boi, que meu pai pendurou, para que eu aprendesse a laçar, confesso que fiz muitas tentativas, mas nunca consegui laça-la , o laço não era de coro era de corda de sisal, quando eu jogava a laçada imbramava. pois a corda era muito molenga.  Na hora do lanche eu apeei do Pintado e fui pra cozinha.     Não é que neste instante despencou uma chuva braba, dessas chuvas de verão.   Um verdadeiro toró de molhar bobo.                                Ninguém lembrou, nem eu que meu lindo cavalinho era de papelão e ele ficou lá fora.  Quando acabou o temporal corri para baixo da mangueira para brincar com o meu cavalo.  Surpresa ele derretera com tanta água, desmanchou todo ficando somente  as rédeas e o arreio  junto com aquele monte de papelão derretido.   Chorei mas  como chorei o meu sonho desaparecera com a chuvarada.   Meu pai assistindo aquele meu drama, me consolou dizendo:- Fique tranquilo, com certeza o cavalinho só irei  encontrar  na capital, pra comprar outro ou como fizera com o Pintado, terei de fazer nova encomenda para o mascate Rachid, que morava em Sorocaba e vinha de trem  pra Itararé , uma vez por mês.  Eu contava os dias, pro meu pai encomendar o cavalinho.  Finalmente, o dia esperado chegou, mas pra mim foi uma decepção o mascate,  explicou pro pai que aquele cavalo de papelão, ele comprou de uma fabrica de brinquedos em Itararé, há tempos atrás do Sr. Pedro Dias Tatit, mais infelizmente a fabrica fechou. Se duvidas da palavra de Rachid, sobre a fabrica de brinquedo do Pedro Tatit,  pergunta pro Jorge Chueri, ele ira confirmar a veracidade !!  Voltei a chorar e como chorei, por não ter novamente um cavalinho de papelão.    Eu senti que meu pai se emocionou e com a voz embarcada ele falou:  -Não chores filho eu vou dar um jeito!!   Foi até a Loja e Armazém Central, lá na rua das Tropas, do Sr. Simão Chueri, (progenitor do Jorge, Wady, Odete, Leila e Henin), e comprou um cavalo de pau, com cara de cavalo de verdade e rodinha.
Logo logo eu esqueci do Pintado, aquele novo cavalinho era melhor não se impunha, mas com ele eu podia correr solto em qualquer lugar... Há, ia me esquecendo de contar o  seu nome: "Serelepe"
Antônio de Fazio

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