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terça-feira, 15 de dezembro de 2015

O GATO MIMI...

 
 Ozico (Zico) Paiva, era uma pessoa carismática, muito interessante, raciocínio rápido,  de bem com a vida.   Frequentador assíduo, no carteado de baralho do Clube Atlético Fronteira, principalmente jogando caxeta ou tranca.   Costumeiramente conseguia reunir varias pessoas, em uma das salas de carteado, para ouvir seus causos, com aquela pitada de humor, que só ele sábia dar. Em uma dessa ocasião,   várias pessoas aguardavam o Turíbio Fiuza (cacifeiro), para abertura da banca, para inicio de mais uma sessão de jogos, dentre elas, o Professor Manoel Raimundo Marques, quando  Zico, adentrou a sala pediu-lhe que  narrasse,   o causo sobre o gato Mimi.  Rapidamente o Zico, ficou a frente de todos que ali estavam e começou sua narrativa:  - Ele (o gato Mimi), era muito inteligente, sinceramente, nunca mais vi um gato igual;  Animalzinho de estimação de  minha mãe   Dona Dinorá.   Mimi, era  um gato um pouco diferente, que na hora de alimentar, só queria leite!   Como o  leite estava um pouco caro,  devido a seca prolongada  em Irati,  minha mãe,  resolveu variar o cardápio do bichano: colocou  na vasilha uns lambaris que eu acabara de pescar (qual o gato que não gosta de peixe não é?), pois o Mimi nem cheirou.   Minha mãe,  tentou outra estratégia: o famoso "Papa de gato": angu com feijão.    Ché! Que nada!   O Mimi até se escondeu. Dona Dinorá  já meia aborrecida com a situação, deixou o gatinho passar um dia de fome. - Agora sim! Eu pego o malandro! disse ela. E colocou na vasilha leite misturado com café.      Eu e minha mãe, se escondemos e ficamos  observando o que o gato iria  aprontar. O Mimi se aproximou da vasilha. Deu um cheiradinha, e... para minha surpresa e da minha  saudosa mãe Dona Dinorá: O MIMI BEBEU TODO O LEITE E DEIXOU O CAFÉ.      O José Benedito Castro (Dito Bola Fora),   não aguentou: -"Zico, esta eu engulo mais não mastigo"

 

CURIOSIDADE...
Muito interessante, ao mesmo tempo curiosa.  Anjo Germiniani (Anjinho), tinha um hobby: o de colecionar panfletos fúnebres  de todas as pessoas falecidas em Itararé. Volta e meia, alguém o procurava para saber a data que a pessoa "fulano de tal" faleceu. Muitas das vezes até familiares que  esqueceram o dia que seu  parente faleceu.  As informações obtidas,  eram muito importante para a nossa comunidade.
 
PARA  REFLETIR  ...
De repente, o mar de lama que vazou da barragem em Mariana (MG) tomou outro rumo e chegou a Brasília. Era o inferno em movimento. Desesperado, o senador corre para tentar salvar-se, mas cai e a lama se projeta sobre ele... Suado e berrando, o parlamentar acorda e percebe que tudo era um pesadelo. Respirando fundo, ele vai até a janela do seu apartamento e vê que os prédios do Senado e da Câmara continuam ali. Tudo parece normal. Será??

FRASE DE ITARAREENSE: "O poder não tem escrúpulos quando é fraco" - Leônidas dos Anjos (Cuca). 

 




 

 

 



quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

RESPOSTA DO PREFEITO... PARAISO DAS SERPENTES:



"Ainda,  "O Paraiso das Cobras".   Recebemos do cidadão Prefeito Municipal, uma carta em resposta ao artigo:  "Paraiso das Serpentes", do nosso distinto colaborador, "JUCA TIGRE", a qual passamos a transcreve:  Prefeitura Municipal da Cidade de Itararé, em 13 de março de 1913.
Ilmo. Sr. Diretor do "O Itararé".   Lendo no seu apreciado jornal, na coluna de honra, um artigo intitulado "O Paraiso das Serpentes", assinado por "Juca Tigre "é tendo dado a palavra ao Prefeito, com muito gosto e prontamente venho dar a resposta desejada.   Antes de tudo é de se estranhar como uma descoberta tão importante fosse divulgada somente agora, há tempo, deveria ter sido participada ao Governo do Estado, e nesta horas teríamos aqui o Ilmo. Dr. Vital Brasil e o  Instituto Butantã, pouparíamos  das enormes despesas para aquisições de serpentes, viso existir em Itararé, um grande deposito de todas as espécies, para todos os estudos.   Senhor Diretor, esse caso de "paraíso das serpentes", faz me lembrar de uma anedota, anedota que as más línguas atribuem ao povo italiano e particularmente ao povo toscano:   "Se faz calor, o povo grita: Governo ladrão; Se chove, o povo diz: Governo assassino.   Se a Câmara Municipal, seriamente realiza os melhoramentos no alcance de sua força, o povo grita, se não faz nada o povo grita da mesma maneira  e se aparece uma nuvem de gafanhotos ou a cidade é invadida , por jararacas, jiboias, cascavéis, sucuris, urutus, a culpa é do Prefeito!!!   Há cidades do interior paulista como Tatuí, Piracicaba, Sorocaba e outras, que ficam as margens de rios, onde é comum o fato de cobras fazerem visitas aos habitantes; e a quatro meses mais ou menos, os jornais noticiaram que na capital do Estado, na bela avenida Tiradentes, foi morta uma senhorita, perdão uma respeitável... jararaca.   A municipalidade de nossa terra, tem tratado com todo o capricho as ruas e praças que são capinadas e limpas por empregados permanentes.   E a Prefeitura obrigada a mandar limpar os quintais , quando os donos nem ao menos limpam rente aos prédios?   O que querem? Que a Câmara Municipal, mande fazer um palacete á cada um que possui quintais?   Se a Prefeitura não mandou fazer nenhuma obra as margens  dos córregos Prata e do Benjamim Duarte, é simplesmente porque ali á Câmara, não possui um palmo de terra, tudo é particular.  E por Lei, cabe aos donos desses quintais e a frente das casas, manterem capinados e limpos; A única culpa da Prefeitura ou melhor a única (fita?), como afirmou o colunista "Juca  Tigre", que não pensou e não ter mandado os respectivos donos desse quintais, cheios de capins ou coisa que o valha, cumprirem a Lei,  mas nesse caso, teríamos a aplicação da anedota do povo italiano, que referi, e sobre isso ´e melhor ficar calado, porque teríamos uma luta terrível de tigre, cascavéis urutus; uma palavra levantaria todo o "Paraiso das Cobras, o que não teria nada agradável do Ibiti para lá.   Com elevada estima e elevado apreço subscrevo-me; De V.S. e amigo, atenciosamente",
Padre Caetano Jovino.
Prefeito Municipal do Itararé.   
-ÁGUA
Paga-se, sem multa, na tesouraria da Câmara Municipal, até o dia 31 de dezembro 1913, a taxa de água, e os que, até aquela data, não satisfazerem os respectivos pagamentos, terão as suas habitações desprovidas do precioso liquido, porque serão cortadas as ligações.
FISCAL - HERCULES PEPPO TRABALHI.
                                                                                                                       -O ABAIXO ASSINADO:    Avisa aos pais dos meninos que a noite perambulam pelas ruas de Itararé, que ontem levou ao conhecimento ao delegado de polícia Capitão João Antônio Pereira da Fonseca, que ao passar na boleia de seu carro -de-praça, na rua General Carneiro, vários meninos, subiram em cima do para-choque traseiro.   Percebendo o grande risco, parei imediatamente o carro, os ditos cujos, saíram em disparada, esvaindo do local.     Outro sim.   Avisa que castigará de hoje em diante os que subirem em seu carro quando em serviços e não se responsabiliza pelo desastre que possa ocorrer.  Itararé, 14 de fevereiro 1913 .
Nestor de Campos.                                                                                                                                               -AULA DE MUSICA: Do Professor e Maestro José Melillo: Aos pobres as lições serão completamente gratuitas.
 
SESSÃO LIVRE: DECLARAÇÂO. 
Existindo um nome igual ao meu, José Correia Machado,  trazendo-me muitos aborrecimentos.    Declaro que desta data em diante assinarei: José Correia Machado Neto. Itararé, O4 de janeiro de 1913.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

ESTAÇÃO FERROVIÁRIA ITARRÉ


 
                                                     
Descendo a rua Newton Prado, logo avista-se o prédio da antiga Estação Ferroviária de Itararé, e a estrada de ferro que cortava o lado sul da  cidade.  Em 1979, entretanto, os trens de passageiros para Itararé foram suspensos pela Fepasa. Poucos anos antes, a Fepasa havia inaugurado o ramal de Pinhalzinho, que saía de Itapeva com direção à divisa do Paraná encurtando a distância que as composições teriam de percorrer para chegar ao Sul. Isto esvaziou o trecho Itapeva-Itararé do ramal, até que, em 1993, o tráfego acabou, com a supressão do trecho Itararé-Jaguariaíva, da RFFSA. A Estação Ferroviária de Itararé,  que era uma das maiores e mais importantes estações da Sorocabana ficou isolada, bem como todas as estações que se situavam além de Itapeva e sem cargas para justificar seu uso. Há poucos anos, quando os trilhos da RFFSA no Paraná, até Jaguariaíva, foram retirados, a Fepasa acabou por permitir a retirada dos seus trilhos da área central de Itararé.  A estação foi abandonada.  Tive o dessabor, de ver seus dormentes carcomidos e desgastados   pelo tempo que  apresentavam sulcos, buracos e  descansavam sobre si os pesados trilhos da ferrovia, mais mesmo assim teimavam em resistir.  Um pouco a frente era a famosa e imponente Estação Ferroviária, desejando boas vindas aos que desembargavam e desejando boa viagem a quem partiam.  Pensando em resgatar, o frenético movimento, da Estação de Itararé, coletei vários depoimentos de ex-ferroviários ou de seus familiares.  Um dia, na década de 1950:   
Deslizando sobre a estrada de ferro aproximava uma locomotiva diminuindo a marcha para estacionar em seu pátio.   O resfolegar da máquina denotava bravura seguida da insistência da caldeira tentando colocar força, mas sendo retida pelos freios acionados pelo maquinista José Vieira de Barros, que de seu ponto de operação começa puxar a corrente fazendo o "cavalo de ferro", apitar e soltar mais fumaça.   A plataforma como era de se esperar recebia os mais diversos transeuntes que se misturavam com os passageiros.   Ao fundo, tentando desvencilhar do aglomerado de pessoas avistava o caixeiro-viajante, o saudoso Dito "Singer", como era conhecido em nossa cidade , com sua inseparável mala de madeira revestida  de um material meio amarelado, desviando de um ou de outro;  Próximo dele uma senhora bonita, desfilando de forma elegante, conduzia pendurado  no antebraço uma sombrinha fechada e bem pertinho a mão de seu amado marido, o saudoso Ari Mariano, funcionário da agência Willians, cujo o proprietário o sr. Oswaldo Silva, já acomodado em um dos bancos, no vagão de primeira classe, fazia o ritual para acender seu inseparável charuto.  Andando a passos largos, o Pedro Bueno, agente ferroviário com sua farda e quepe na cabeça diferenciando dos demais, no mesmo instante que começava soprar o apito, indicando para aqueles que aguardavam que estava na hora de embarcar.   A sua frente cruzou o Antônio Brum (Bicho Cru), com terno  de linho 120 branco, na cabeça um chapéu de coco, sapato branco e não usava meias em umas das mão entre os dedos uma cigarrilha e com a outra deslizava para o bolsinho da calça, onde puxou um relógio pendurado em uma corrente para conferir a hora.   O vai e vem de pessoas subindo e descendo do trem, caminhando pela estação, parecia não acabar, alguns paravam para saborear uns salgadinhos, e beber um famoso refrigerante de Itararé,  a famosa  sodinha Vilela, no bar da Estação de propriedade do Francisco Vicente da Silva (Chico Preto).  Saí, contemplando aquele cenário que demostrou fartura, quando um pouco adiante me deparei com outra composição ferroviária um trem cargueiro estacionado em frente do depósito  de mercadorias.   Do mesmo modo da estação, o movimento a sua volta com muitas pessoas.   Os carregadores , chapas ou estivadores, alguns com camisa, outros sem, empunham sobre a cabeça uma rodilha de pano e couro, uma espécie de suporte  usado para ajudar a apoiar e aliviar os pesos dos fardos de algodão ou sacarias que carregavam,   num frenesi constantes, entre eles, o Zé Beleza e o Biguá, ao lado dois  vagões estacionados carregado, um de sacarias com arroz cateto, o outo carregado de barris de vinhos "Vanguarda", oriundos da serra gaúchas, prontos para a descarga, no caminhão De Soto,  dirigido pelo Dito Caetano, foi 1°. caminhão da frota, do empresário Gumercindo Ferreira Santos, estabelecido na São Pedro-2.222. Do outro lado, várias carroças aguardavam o descarregamento de vários tipos de mercadorias para o comercio de Itararé, e também carregadas de mercadorias para despachar para vários municípios, lá estava o Francisco Assis Stlader (Acir), com sua carroça, para mais um dia de trabalho. O Boa Aventura Dias, com seu carro de boi, transportava fardos de algodão da Algodoeira do Gabriel Jorge Merege, localizada bem próxima da estação.   O que chamou atenção, foi um carregamento da Banha Caiçara, produzida pelo empresário Antônio Pelissari, para despachar para São Paulo e para vários municípios, levando o nome de Itararé, por esse Brasil afora.    Além das carroças, caminhões oriundos da nossa zona rural com vários tipos de produtos agrícolas: feijão, milho e  trigo; A lenha, era transportadas pelos caminhões da frota da ferrovia, e um dos motoristas era o Clidão Preto;   Laercio Silva, no seu caminhão "Diamante Azul", Nelson de Almeida (Tenente), Celso Teixeira (Guacé), entre outros. Os taxistas, tinham um ponto rotativo na estação, dentre eles : José Silva (Zezé), Mário Libanio, João Lara dos Santos (Tambiú), Wanderlei Ferreira Paes (Xaxá ) ,  Benedito Galvão dos Santos (Pixilico)... Os motoristas para matarem o tempo, formavam rodas de conversa e piadas regadas de risos e gargalhadas.   O movimento da estação, continuava sua sina, agora com despedidas das mais diversas, beijos leves, abraços e as recomendações para quem embarcava.   O universo de conversas, choros e acenos era cortado e atrapalhado pelo silvar do apito do Agente Ferroviário, indicando que a locomotiva estava próxima de partir.  O Zé Vieira, novamente iniciava na  maquina de ferro, o resfolegar  feroz, como a dizer  todos que queria ganhar estrada.   Na estação, pude ver sua plataforma começando a esvaziar, os bancos quase desocupados.  O "Dito Louco", finalizando a limpeza da gare e no átrio, onde ficavam as salas das bilheterias telegrafo, a escadaria  de acesso e alguns funcionários concluindo suas tarefas.   Após sua desativação, alguns anos depois,  passando em frente ao prédio que era o armazém e residência  do sr. Antônio Pelissari, vi um  paredão, pintado a cal, na grande lateral, não trazia mais gravada em letras enormes o nome daquela que era a maior de nossa região: Algodoeira Gabriel Jorge Merege Ltda.  No interior do prédio, entulhos e um amontoado de ferragens enferrujadas e ao centro destacava-se a maquina de beneficiar algodão..   Novamente voltei a olhar para a estação e o que vi foram portas e janelas fechadas, algumas carcomidas e deterioradas.   A sua volta nenhum  cargueiro de pessoas ou de mercadorias.  A sua estruturas, com enormes vigas, abrigavam um grande criatório de  pombos.  Na plataforma nenhum pé de pessoa, nenhum trem, apenas o vazio, apenas o nada.  Permaneci parado contrastando o cenário passado com o atual.  E subitamente voltei o olhar para os Dormentes e Trilhos, protagonistas e testemunhas mudas de uma grande história do passado de Itararé; Maior entreposto de madeiras do Brasil.  Maior fornecedor de suínos do Estado de São Paulo.  Destaque na plantação de trigo e a Capital do feijão.  Tudo isso aconteceu na "Sentinela da Fronteira", que num passado não muito distante proporcionou cenas de uma economia quase imbatível.
Frase de itarareense - "Sistema ferroviário: Orgulho mundial;  Vergonha brasileira":  José Vieira de Barros.


 




sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Do baú do Jornal "O Itararé"

         
                                                                      
BANCOS PARA JARDIM...
A exemplo de que se faz em todas as localidades adiantadas, alguns cavalheiros progressistas da nossa terra, tomaram a iniciativa de subscreverem-se quotizando-se para aquisição de bancos necessários para o jardim da praça Coronel Jordão, em via de ser concluída.   Assim pois, a Câmara de Vereadores, despendendo pequena parcela, terá conseguido em breve a instalação de mais este melhoramento, n’aquele logradouro público.   Já subscreveram doando um banco:  Coronel Adolpho Pimentel, Major Leôncio Pimentel, Cel. Frutuoso Pimentel Junior , Antônio de Queiroz, Fêres Chueri, Simão Chueri,   Joaquim Dias Tatit, Francisco Nogueira, Glicério de Almeida Pimentel, Felipe Chueri, João Rossi, Mauricio Pedroso, Maestro José Melillo, Padre Caetano Jovino, Professor Tomé Teixeira , Hercules Peppo Trabalhi, Irmãos Chueri Ltda., a redação do Jornal “O Itararé”.   A Câmara Municipal, com 7 bancos. Itararé, 5 de janeiro 1913.

ÁGUA
Paga-se, sem multa, na tesouraria da Câmara Municipal, até o dia 31 de dezembro 1913, a taxa de agua, e os que, até aquela data, não satisfazerem os respectivos pagamentos, terão as suas habitações desprovidas do precioso liquido, porque serão cortadas as ligações.
FISCAL - HERCULES PEPPO TRABALHI. 

DENÚNCIA...
"O PARAISO DAS SEPENTES"...
Bela terra é o município de Itararé;   Bom clima, sem rival no Estado, boas águas, bom povo, topografia incomparável, tudo encontra o que aqui visitam, principalmente suas belezas naturais.   E tudo fala a imaginação.   Decididamente o Itararé, é um pedaço do paraíso.. Do paraíso?  Sim, mas toda a medalha tem o seu reverso;  Aquelas várzeas, que   ali  aos nossos olhares, abrigam multidões de ratos e coelhos, tem em seu seio as mais terríveis variedades de ofídios, que se possa imaginar...Jararacas, caninanas, cascavéis, urutus, cotiaras...  Quer saber o porque desta infestação de toda essa série infinita de cobras venenosas e que  falam-nos os hepertologista: "As cobras  se aninham,
nas várzeas que margeiam o rio do Prata, porque são atraídas pelos coelhos e ratos, seus  petiscos prediletos, bem sabem á digestão ofídica".   Dali do "quartel general"; Irradiam, emaranhando  pelo matagal espeço das várzeas.    Será que é  consequência da alta do preço da foice?;  Ou é inercia do executivo?   Pode-se sem  exagero afirmar, que em cada quintal residencial de Itararé, abriga-se uma cobra venenosa, ameaçando constantemente os pacienciosos e pacíficos moradores de nossa cidade.  FATOS:  Um dias deste o Cel. Nenê Sobrinho, ao mandar capinar o quintal de sua casa, encontrou duas enormes cotiaras , que foram mortas a tiros;  No quintal do Professor Tomé Teixeira, foi morta uma jararaca do rabo branco;  Bem a frente da casa do sr. Alberto Fiuza, foi morta há dias uma coral-verdadeira, quando saiba, em baixo do assoalho;  Na casa do sr. José Theodoro de Faria, jiboia com mais de um metro de comprimento, foi morta a golpes de facão;  Na casa do sr. Juqueta, foi morta uma urutu a tiros, debaixo de uma cama; na casa onde estavam instaladas as oficinas do "O Itararé", foram mortas a paulada duas cobras  cascavel.   E assim por diante...   O PERIGO?  As várzeas paludosas  cheias de ratos e coelhos. O REMÉDIO: Esse só pode dar a prefeitura, que anunciou (fita?), o saneamento da várzea da Estação e a plantação de eucaliptos a margem do rio da Plata, que em breve será canalizado.   TEM A PALAVRA O PREFEITO!!   Itararé, 09 de março de 1913 - JUCA TIGRE.

Frase de itarareense: "Cargo de livre nomeação foi uma forma que inventaram de impor à Administração Pública a presença de pessoas que não tiveram capacidade para passar em concurso público, nem a competência para ganhar uma eleição, para vereador.  Não terei, assessores de palanque e sim os que forem qualificados para os cargos específicos". Prefeito - Dr. Clayton Sguário - Por ocasião de sua posse em 02 de fevereiro 1969.

Em tempo: Aguardem a resposta do Prefeito Municipal, ao colunista do Jornal "O Itararé", "Juca Tigre".

terça-feira, 3 de novembro de 2015

A melhor idade...- O porque do apelido:"Bota Seca"- Resposta a cavagaldura...

A melhor idade...
Não sei bem ao certo, mas deduzo que nos tempos atuais os velhos são outros. Diferentes, digamos assim. Pois conforme a idade vem chegando, ou melhor, avançando e a velhice chegando, temos que ir aceitando aquilo que ela nos impõe.  Para as ruga e as peles, haja consulta no dermatologista, antigamente a babosa dava um jeito.   A caminhada, não existia, pois antigamente, no seu dia-dia, não existia elevador; (somente escada, portão eletrônico, (só o de tranca), controle remoto (só o botão de liga e desliga). Não precisava-se de academia, só os seus esforços do cotidiano era uma malhação.  Em outros tempos, nada fazia mal, não havia restrição em consumir ovos fritos, carne de porco, doce de abobra, de cidra, de laranja, melado, rapadura (até com amendoim), arroz com frango, franguinho ao molho feito na própria banha do penoso. Tudo isso era rebatido com um chá de "carqueja" ou "marcela".   Nos comércios das feiras-livres , aqueles pastéis (com quase meio quilo cada um), bem temperados, recheados com ovo e guisado e de lambuja uma pimentinha, fritos na banha de porco, que ao mordermos, escorria pelo canto da boca. Sem contar que ao meio dia, uma costela gorda, de gado ou de carneiro, descia redonda após deixar um pouco da graxa no queixo ou no bigode, tudo era irrigado por um vinho colonial, após alguns goles de canha pura, um aperitivo para abrir o apetite.   Não podia faltar o cafezinho e para alguns até um  cigarrinho de palha.   Daí então que hoje somos outros velhos, diferentes. Diferentes? Pois é, não comemos comidas com banha de porco (só com ´0leo de milho ou de canola) ovos fritos, raramente, arroz (integral) com frango somente sem a pele da ave, doces sem adição de açúcar, não vamos nas barracas  para desbuchar um pastel de feira,  garapa de cana,  nem pensar,  vinho, somente 1/2 taça e escolhemos o da uva que melhor combata o colesterol.   Aqui na cidade passamos por bares, lanchonetes padarias, restaurantes, cachorrões, churrasquinhos, etc. Se chegamos em um destes estabelecimentos , devemos observar que carne gorda não faz bem, que cerveja e refrigerantes causam "pressão alta",  o café provoca insônia,   que as frituras entope as veias e assim vai.  Somos velhos recheados de remédios e com vontade de comer e beber aquilo que gostamos.  Somos velhos diferentes, ou melhor,  idosos na melhor idade, háhahaha!, faz me rir o que , estamos comendo.  e ainda dizem que essa é a  melhor idade.

 

O porque do apelido: "Bota Seca".
Quando conheci o Nenê  Bota Seca, sua única ocupação era de pescador e caçador. Não fazia outra coisa que não fosse isso. Ele se reunia com mais 3 amigos, sempre nas sextas-feiras e lá iam eles pro sertão lá pras bandas de  Santa Cruz dos Lopes, onde tinha um rancho em um trecho das Corredeiras Paulista, no rio Itararé;   Construído por ele, onde passava 2 dias caçando e pescando.  Numa dessas pescarias, fui junto, convidado pelo Nenê,  Dessa vez, especificamente também foi  um homem alto e gordo que tinha recém chegado da cidade de Pouso Alegre, Minas Gerais.   Veio com  a esposa para conhecer Itararé, e adquirir uma casa residencial e também uma chácara ou rancho de pescaria para o seu lazer, já que era aposentado e seu hobby era pescar, seu nome era Francisco Aleixo Medeiros.    Saímos da cidade de Itararé, às 5 horas da matina. Lá prás 6 horas mais ou menos, o Nenê , que dirigia o seu jipinho Willis 51, parou na descida da Usina Maringá e logo atrás seu Francisco, também parou sua perua.  O nenê falou: – Eh pessoar, vou dar uma mijada e vorto já;  Estava acabando de mijar, quando ele disse:– Como é bom mijar no que é da gente!  Foi aí que o Francisco, que estava a fim de comprar o Rancho, perguntou: –  Essas terras também são de vosmecê? – Não Seo Francisco , mas as botas são.  Foi devido a esse seu habito  que foi carinhosamente apelidado pelo Eli Gorki, de "Nenê Bota Seca",  Suas botas nunca foram engraxadas  e   para deixa-las macias sempre mijava sobre elas... 


RESPOSTA A CAVALGADURA... 
Dr. Rubens Lobo Ribeiro, era um vereador de Itararé, muito culto e, grande tribuno, dono de admirada rapidez de raciocínio.     Certa sessão ordinária, discursava na Tribuna da Câmara, tentando ignorar os pedidos de aparte do  vereador Alraci  Pacheco Martins, da situação, que gritava: V. Excelência, foge ao debate!  É incoerente!  Dá no cravo, outra na ferradura!       - Ledo engano, responde Dr. Rubens,  V. Excelência,   que é o culpado!  Pois que se mexe tanto? Assim não posso  ferrar-te... O plenário desabou em demorada gargalhada.
 
Frase de itarareense: "Chega de falar que já ganhamos, ninguém é dono do seu  amanhã": Francisco Alves Negrão, Comício da  campanha de 1968, como candidato a vice-prefeito de Clayton Sguário.
 

 

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

CASOS




 
 

PRECE DO TROPEIRO
"Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito, Santo e com licença, Patrão Celestial. Vou chegando, enquanto cevo o meu amargo de minhas confidências, porque ao romper da madrugada e ao descambar do sol, precisamos tropear por outros caminhos e repontarmos do céu a força e a coragem para as dificuldade do dia que passa.  Nós bem sabemos que qualquer tropeiro, de chapéu de abas larga e bota de cano alto, de faca, rebenque e esporas, não se afirma nos arreios da vida, se não se estriba na proteção do céu. Ouve patrão celeste, a oração que nós  fazemos, ao romper da madrugada e ao descambar do sol.  Tomara que todos sejam como irmão! Ajuda-nos a perdoarmos as afrontas e não fazermos aos outros o que não queremos para nos. Perdoa-nos patrão celestial, porque rengueando pelas canhadas da fraqueza humana, de quando em vez, quase sem querer, nos soltamos  porteira afora... eta mula xucra, renegada e cavorteira....mas nos o garantimos meu Deus, queremos ser bons e direitos!   Ajuda-nos Virgem Maria, primeira dama do céu, socorre-nos São Pedro, capataz de pousos e estâncias tropeiras e pra fim de conversa, vamos lhes dizer meu Deus, mas somente pra você: que sua vontade levamos as nossas  de cabresto pra todo o sempre, até a morada  do céu. Amém".
A Prece do Tropeiro, meu saudoso  pai, Zuani de Fazio, ganhou copia de seu tio, o tropeiro, Capitão Eugênio Gabriel, por ocasião da reinauguração, do novo prédio da Churrascaria Bambu em 1954, na São Pedro 1890.   O Capitão Eugênio Gabriel, e sua esposa Carmela Perrone Gabriel, descerraram a faixa simbólica , na abertura da nova casa.   O saudoso, padre Teotônio do Reis e Cunha,  abençoou-a, e esborrifou água benta, nas repartições do prédio e nas pessoas,  presentes naquele ato solene.   O casal, Carmela e Eugênio, eram os únicos tios vivos, nessa época, de meu pai e o  filho do casal, João Gabriel, leu a Prece  do  Tropeiro, após a benção realizada , pelo padre Teotónio   O meu tio avô, Eugênio, carregava a Oração Prece do Tropeiro,  em sua mala de garupa, era uma rotina, antes de tanger suas tropas.  Com as mãos espalmadas e voltadas para o céu, com a maior espontaneidade, orava em voz alta, para sua comitiva.    Meu tio avô Eugênio Gabriel, entregou uma copia da  Prece do Tropeiro, após a leitura da oração  e  proferiu esta frase: "É O COMEÇAR DE UMA NOVA E LONGA JORNADA... E QUE DEUS O AMPARE". 

OLHA A MANGUEIRA AI GENTE... 
Era  muito comum nas pequenas comunidades deste interior, nos dias de festas dos padroeiros, a procissão fazer parte dos cultos religiosos, onde os fiéis saem em oratória pelas ruas desparelhas das cidadezinhas, principalmente no tempo do antanho.  Na festa da santa padroeira.   Acompanhando o andor muita gente, o andor com a imagem da santa, a comitiva de atrás, um padre puxando as rezas. Pois Bem. O caso que conto agora tem muito a ver com tudo isto:Num domingo pela manhã  na legendária Itararé, em uma  destas festas interioranas, vinha a procissão em suas rezas e cantorias trazendo a santa padroeira  com o andor todo ornamentado em verde e rosa.   Na passagem diante do Bar do Bahia, na rua 15 de novembro, esquina coma a rua Newton Prado,  estava o Lustroso, na frente, duro de trago, "cercando frango", aquela hora com um sol ardente. Vocês já repararam que onde tem música, comício e procissão, sempre tem um bebum na volta?   Pois bem. Ao ver aproximando-se a procissão , com aquela santa decorada em verde e rosa, o Lustroso, soltou  o grito: - Olha a mangueira aí geeeeente!!!!!!!!!!!!!!! Foi o motivo para o padre Teotónio,  enlouquecer e descarregar sua ira contra o Lustroso, que mal parava em pé diante do bar.- Seu excomungado!!! - Onde está sua fé?????!!!! - Não respeita nem uma imagem sagrada???!!!! Andaram mais um pouco e logo adiante, aproximando da praça da Matriz,  o andor bateu no galho de uma linda mangueira. A imagem da santa espatifou-se no chão com cacos de gesso para todos os lados.  Aí foi a vez do Lustroso, estufar o peito e arrematar:
- EU AVISEI, MAS O PADRE É TODO ESTRESSADINHO...

PARA REFLETIR...
Imaginem uma praia, areia fina, limpa, paisagem exuberante, com uma orla maravilhosa com estrutura servindo o melhor dos pratos e aquele Chopp congelante. E o mar? Ah! o mar! O mar lindo, aquela água cristalina que ao longe fica azul piscina, ual! Pense em tudo isso a 10 Graus negativos, ventos cortantes e sensação térmica de - 20. Ou seja, diante desse cenário, temos tudo e não usufruímos plenamente de nada a não ser admirar e imaginar como seria bom todo esse cenário a 35 graus de calor. Nós brasileiros estamos nessa condição quando olhamos para qualquer instituição desse país. E aí temos tudo e não usufruímos plenamente de nada. Porque Luíses, Dilmas, Cunhas, Sarnas e Neros, entre muitos outros (pouquíssimos) impedem que o país tire pleno proveito das instituições criadas para dar ordem e progresso e transformar melhor o viver de cidadãos. Que cidadãos? Somos uma sociedade privada de tirar proveito de um país bonito por natureza... E QUE TRISTEZA.
Frase de itarareense: "Se  a tranquilidade da água permite refletir as coisas, o que não poderá a tranquilidade do espírito?" - Diácono Lucas Ferreira.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

CASOS DO OZICO PAIVA...

Ozico Paiva, nasceu no município paranaense de Irati, em 17 de fevereiro de 1932, filho de  Dinorá Paiva e Euracídio Pereira Paiva, seu desenlace ocorreu em 11 de agosto 2004 em Itararé.    Um grande ser humano, amigo , um grande contador de causos, muitos deles predominavam a  criatividade, outros verídicos.   Contados nos botecos e velórios  itarareenses e   nos ranchos de pescaria.  O caso do Pierrô Macabro, ele contou no rancho de pesca do João Lambança, que ficava no rio Taquari, em Itaberá, Carnaval de 1969.  Os "pescadores", em uma comitiva de Itararé , na realidade, foi programada pelas pessoas que trabalharam na campanha eleitoral vitoriosa do então candidato Clayton Sguário, entre outras pessoas  presentes que foram convidadas,  recordo-me : Do ex- prefeito Tico e seu irmão Dinho,  o vice prefeito eleito Negrão e seu filho Luisinho, Zuza (meu pai)  (era o responsável pelo comitê, instalado no antigo bar do Frasson), Nenê Bota Seca, Acir Carroceiro, Mostrinha e o irmão Darci Nogueira, Nelson Vilela (pai), Pixilico, Zé Maria Santos, Vilinho e Eli Gorski, dentre as pessoas, também, se fiz presente, a essa inesquecível "pescaria", numa terça feira de carnaval, 18/02/1969 .  Vamos ao caso narrado pelo "Zico" Paiva: "- Não pelo fato de ontem, completar 37 anos bem vividos  e ter nascido em um domingo de carnaval.   Desde pequeno tenho um fascínio muito grande pelo sobrenatural e principalmente os que ocorrem no carnaval e semana santa.     Em 1946, quinze dias antes do Carnaval, minha avó e eu fomos passear na feira do Largo da Ordem , em Curitiba.  Fomos de barraca em barraca até que em uma delas vi um boneco que me chamou a atenção: era um pierrô com uma lágrima desenhada no rosto , com uma roupa de palhaço em preto e branco . Assim pedi para que a minha avó comprasse aquele boneco para mim.   Uma senhora de idade, que parecia uma bruxa, nos atendeu e vendeu o brinquedo para a gente.   De volta para minha casa em Irati, logo que adentrei o portão, fui recebido pelo meu  cachorro de nome Corisco, não como das outras vezes que me recebia de rabo abanando e me lambendo, sua atenção era voltada  para o pierrô, começou a rosnar e latir compulsivamente e tentou atacar o boneco. Protegi o brinquedo, grudando-o em meu corpo.   A noite coloquei o pierrô numa prateleira que ficava em cima da  cama . No meio da madrugada senti que  uma gota de água caia sobre o meu rosto . Então , acordei e pensei que poderia ter sido um sonho . Mas , passei a mão sobre a minha face e vi que ela estava molhada . De repente um pensamento passou pela minha cabeça;   Será que foi uma lágrima do pierrô? Afinal, ele tem uma lágrima desenhada no rosto.  Desta maneira tirei o pierrô de cima da prateleira e coloquei  na gaveta de uma cômoda em meu quarto.  Uma semana se passou, até que chegou a sexta-feira de Carnaval . Antes de dormir procurei o pierrô, na cômoda e nada,  revistei toda a casa e não achei o boneco.  Finalmente , chegou a terça – feira de Carnaval , quando chegou a noite fui dormir. Porém , no meio da madrugada senti um cheiro forte de cachaça , virei para o lado , abri os olhos e me espantei com o que vi : o pierrô estava do meu lado, em cima do criado mudo, com um aroma de cachaça e com confetes espalhados pelo seu corpo.   De repente , um pensamento estranho passou na minha cabeça:  - Será que o pierrô saiu sexta, sábado, domingo, segunda e terça só para pular o Carnaval?   No dia seguinte, fui brincar com o boneco no quintal, quando meu cachorro começou a olhar para ele e latir. Vi que os olhos do meu cão tinham um brilho diferente e por isto resolvi olhar para dentro do olho  dele. Foi quando eu vi que dentro dele se formava a imagem do fantasma de um homem segurando o pierrô.    Assim, eu dei um grito e saí correndo.   Contei o fato para minha mãe Dinorá, lembrou-se que sua comadre tinha contado que   no Largo da Ordem em Curitiba,  havia uma mulher que costurava bonecos com roupas de mortos, para vender e que seria melhor eu jogar o boneco fora.   Já,  cabreiro, fui até o padre que me contou: Que todo o boneco de pierrô, arlequim e colombina são amaldiçoados, pois têm um papel importante na comédia mística italiana. Ele, também, disse que o pierrô representa o anjo, o arlequim representa o diabo e a colombina representa a Terra , que o arlequim tenta seduzir. Por isto, diz a lenda que qualquer boneco que representa uma destas três figura cria vida no Carnaval.   Depois desta conversa toda, resolvi jogar o boneco fora.      Sigo crendo no sobrenatural ...  Eu e essa minha mania...".
Frase de itrareense: "Se  você conta a verdade. Isso se torna parte de seu passado. Se você conta uma mentira.  Isso fará parte do seu futuro". (Dr. Ni Lobo).

terça-feira, 13 de outubro de 2015

PITACOS

ÚLTIMO DESEJO...
Meu deus se o senhor tiver / Um presente prá me dar / Se a caso for salvação, / Nem precisa me salvar! / Quer me dá mesmo um presente / Deixe eu voltar novamente / Prá viver no meu sertão . /  Eu já tô ficando velho / Não tenho a mesma saúde / Deixe eu ver a minha terra, / Por favor, Deus, me ajude! / Deixe eu andar nos caminhos, Escutando os passarinhos, Tomando banho de açude. / Deixe-me sentir o cheiro / Da fumaça do fogão, /Assando milho na brasa / Da fogueira de São João / Comer xerêm na panela / Debruçar-me  na porteira,/ Do antigo mangueirão. /Desde que eu era mocinho /Que deixei o meu torrão / Tentando viver melhor / Mas tudo foi ilusão / De cidade, por cidade, / Passando dificuldade, /Vergonha e decepção. / Já criei duas famílias / Sem direito a sossegar, / Tudo que arranjei foi pouco / Não pude economizar / Agora vivo tristonho / Toda vez que durmo sonho / Voltando ao meu lugar. / Tem sonho que até parece / Que eu to mesmo acordado / Vendo mamãe na cozinha, /Meu pai tratando do gado, / O sonho é tão verdadeiro /Que eu chego a sentir o cheiro / Das coisas do meu passado. / Sinto o cheiro de água nova / No tempo de invernada / Ouço o barulho do vento / No ritmo da trovoada / O barulho da goteira / O rouxinol na biqueira, / Cheiro de terra molhada.../ Então Deus, aceite a troca!!/  Me faça essa gratidão, / Eu prometo ao senhor / A minha satisfação / Ao invés de me fazer santo, / Deixe eu voltar pro meu canto / No lugar de salvação. / Deixe eu ver serra do gado, / Como era antigamente, / O velho grupo escolar, / A igrejinha na frente, / Assuma este compromisso, / Se o senhor fizer isso, / Já é o melhor presente. /  Meu prazo de validade / Já está quase vencido / Juro que se eu não voltar / Pro lugar que fui nascido, /Nada prá mim tem valor / Posso jurar ao senhor / Tudo que fiz foi perdido. / Eu quero acordar cedinho, /Sem ter preocupação / De mercado prá pagar, /Aluguel e prestação, / Quero a paz da minha terra, / E esquecer essa guerra, / Onde tudo é ilusão. / Quero olhar pro céu a noite, / E ver a lua brilhar / De manhã sentir o sol / Começando a clarear / Dê-me esse resto de vida / Com minha família unida / Vivendo no meu lugar. / Meu deus, eu vou terminar / Desculpe a minha fraqueza / Mas se eu morrer por aqui, / O senhor pode ter certeza / Que se isso acontecer,/ Meus filhos irão dizer / Papai morreu de tristeza.
 PARA ONDE VAMOS ???
Meu País, como o quero de volta, como queria ter boas notícias, como queria algo que incentivasse o empresário. o comerciante e, consequentemente, o emprego. Ai, que saudade do Brasil! Como eram bons aqueles tempos sem inflação, sem dólar nas alturas, e que a gente podia comprar até produtos importados, os quais cabiam no orçamento. A construção civil contratando, as montadoras de carros vendendo, os jovens entrando na faculdade, e hoje o que temos: A cada dia um escândalo, envolvendo autoridades de várias instituições e partidos que não correspondem com a sua história...
O OUTRO LADO DA MOEDA...
Minha questão não é filosófica, nem histórica, tampouco geográfica ou linguística. É questão matemática mesmo! Em valores, qual é o número que delimita o que é ser corrupto, ou não? Minha pergunta parece óbvia, pois muitos responderiam de imediato que qualquer valor recebido ou pago, por algo desonesto, seria um valor corrupto. Porém, não é o que se observa no cotidiano. Há muita gente intrigada com os bilhões desviados da Petrobras, mas que não se intriga com os R$ 4 a mais que recebeu no troco errado e não devolvido. Muita gente questiona os milhões de dólares dos políticos desviados às contas bancárias suíças, mas está pouco preocupada com o ‘café’ pago para o policial para livrar a multa, tampouco ficam pasmos por estacionar (‘rapidinho, volto logo’) no local destinado a deficientes ou idosos, ou parar em fila dupla. Muitos bradam aos quatro cantos os superfaturamentos dos estádios da Copa ou do metrô de São Paulo, mas pouco se interessam pela sonegação de impostos da ‘lojinha’ perto de sua casa, porque julgam ser ‘dinheiro de pinga’. Novamente eu pergunto: qual é o valor que é o limite entre ser corrupção ou não? R$ 50? R$ 100? R$ 10 mil? R$ 1 milhão? Ou não existe valor para o ser humano, o que existe é ter ângulos diferentes de visão, ao estar sendo favorecido ou sendo prejudicado? Vale a máxima de que meus inimigos devem ser execrados e meus amigos desculpados? Qual é o valor da corrupção?...
PARA REFLETIR...
Nos encontros  que fazíamos regularmente  extra Câmara,  pretexto para falarmos de política, futebol e dos grandes problemas do Brasil  e  Itararé, o ex-prefeito Benedito Nehir Carneiro, então, Presidente da Câmara (quanta saudade!) lembrava sempre da frase que lhe disse o governador André Franco Montoro: “A política é como a enxurrada. E não há enxurrada de águas limpas”. Em seguida, acrescentava o advérbio de modo: “Infelizmente!”.  Ao que parece, as enxurradas de hoje são mais sujas do que as de antigamente.
PREPARATIVOS...
-Amigo, e se o GOVERNO optar pela Volta da CPMF, o que NÓS vamos FAZER? Ora amigo absolutamente NADA.  Até porque as autoridades dizem para NUNCA REAGIR em caso de ASSALTO.
FRASE DE ITARAREENSE: " É nos momentos de crise que se cresce.  Mas eu já estou batendo a cabeça no teto...  Até quando??" - Leônidas dos Anjos (Cuca).

sábado, 10 de outubro de 2015

SABEDORIA DO ZÉ BELEZA...

 
Diácono Lucas Ferreira, ia para o Bairro de Bom Sucesso, celebrar um casamento. Estradinha da casa de pedra, cheia de buracos e de poeira, dirigindo seu fusquinha velho. Curva em cima de curva. Matão danado em volta. Fusquinha ora engasgava, ora tremia, ora dava umas rateadas, mas ia indo. Subida então, era um desarranjo. Carrinho aprontava berreiro danado, soltava fumaça por tudo quanto é buraco, mas ia rodando. Aí chegam os dois, Diácono Lucas e o fusquinha, na descida da Serra da Lumber, no matão mais fechado. Aquele onde todo mundo falava que tinha umas onças... Bichanas nem podiam sentir cheiro de carne humana que tavam em cima da carniça. De tão fechado o mato, parecia até que tinha escurecido. E, para arrematar, povão dizia que assombração ali também era mato. Seu Diácono, não acreditava muito nessas coisas não, mas por via das dúvidas, era bom ficar prevenido. Foi lá que aconteceu a desgraça: pneuzinho careca do fusquinha furou. Rodar com pneu furado prejuízo na certa. Paróquia pobre. Diácono pobre. Sair do carro risco grande demais. Coragem pouca. Diácono Lucas, craneia, craneia e não acha solução. Nenhum vivente à vista. Ninguém para uma demãozinha. Viu que tava mesmo cagado de arara. Casamento lá no Bom Sucesso, tinha hora marcada. Noivinha já devia estar chegando à igrejinha na charrete toda enfeitada. Agoniada esperando a grande hora.     Com um friozinho na barriga coitado do Lucas, resolve sair do carro e trocar o pneu. Rezando o Creindeuspadre. Atento a qualquer barulho. Suando frio. Olhando de rabeira pra tudo quanto é sombra. Pronto para refugar frente a qualquer sinal suspeito. Trabalhão danado pra tirar pneu furado. Mãos acostumadas   escrever (além de diácono Lucas era professor) a rezar, celebrar casamentos sem traquejo com chaves, macaco e parafusos. E a tralha velha não colaborava: macaco sem óleo, chave da boca maior que as cabeças dos parafusos... Tirou o bicho mais no muque, com uns palavrões seguidos de Padrenossos, do que com a ajuda do macaco e da chave de rodas. Pegou a calota, virou-a de boca pra cima e nela colocou cuidadosamente os quatro parafusos pra não perder nenhum e nem pegarem poeira. Como o carrinho estava meio mole, freio de mão avariado, resolve procurar uma pedra para calçar o danado. Bem no barranco, assim perto duma moitinha, vê uma pedrona boa. Borrando de medo, mas com muita fé em Deus, sai de perto do carro e vai pegá-la. Um pé na frente e o outro atrás, pronto para a refugada. Quando tá com a bruta nas mãos, fazendo força, ouve um barulhão dentro da moita. Sente aquela friagem na espinha, pernas amolecem, coração acelera e os poucos cabelos arrepiam. Mas instinto de sobrevivência fala mais alto e o pobre do Diácono Lucas,  sai numa desabalada corrida carregando a pedra. Reto no rumo do fusquinha. Chega perto do carro, solta a dita cuja de qualquer jeito e tafuia dentro dele esperando pelo pio.    Fica no quieto tempão danado, a ponto de rezar quase todo o rosário, e... nada. Bicho nenhum aparece. Nem assombração. Negócio era criar coragem novamente e voltar ao que tinha começado. Melhor pensar que o barulho era de algum lagarto ou de um gato do mato assustado. Assim que o diácono sai do carro é que vê a burrada que fez. A pedra caíra na borda da calota e, com a queda, jogou os parafusos pra longe, no meio do mato. Achá-los, impossível. Procurar, nunca. Desespero toma conta do coitado. Xinga umas palavras em italiano, mas rapidinho se arrepende e pede perdão a Deus. Já sujo, molhado de suor, rezando baixinho, com fome, senta lá dentro do carro esperando solução. Noite chegando. Medo agoniado e inconfesso espremendo o peito.     Depois de muito rezar, vê um vulto aparecer lá no alto do morro. Põe óculos, tira óculos... E o vulto descendo. Devagarinho. Pára, anda, pára de novo. E o Diácono Lucas, tremendo e butucando de olho arregalado:     - Ai Deus  meu, agora é sombração mesmo!... O que que eu fiz de errado, meu Deus? Virgem!..      O santo homem sente vergonha de si mesmo, do medo que estava sentindo e se lembra até dos sermões que fazia nas aujas de casticismo contra essas crendices pagãs. Na prática teoria era outra. Novamente põe óculos, tira óculos e o vulto vindo. Sem pressa, naquele mato escurecente. Quando o vulto chegou bem perto foi que o Diãcono Lucas,  entendeu que era gente. Gente de verdade. E não é que ele conhecia o dito? Era o Zé Beleza. O doido lá de Itararé.   Aí Diácono Lucas,  se encheu de coragem e saiu do carro. Foi com santo alívio que cumprimentou o recém-chegado:    - Boa tarde, Zé! O que que anda fazendo por estas bandas, meu filho? - Tarde!  - Tá passeando, Zé?  - Pensano!... - Pensando em que, Zé?  - Cê leva ieu?   O diácono  pensou consigo mesmo: "que adianta eu querer conversar com este maluco? O Zé Beleza,  não diz coisa com coisa mesmo!". Mas, como não queria perder a companhia, mesmo sendo de um lelé da cuca, continuou o papo como se fosse tudo dentro da maior normalidade.  - Pra onde você vai? - Vou até o Bairro, buscar o "Zé Graça", pra conserta , o caminhão do Chico Candoga que pifo!! Na Fazenda Saco Grande.     Leva.   Eu levo.     Acontece é que o pneu tá furado...    - Por que ocê num troca?    - Era o que eu ia fazer, Zé, mas perdi todos os parafusos desta roda e não tenho outros para colocar no lugar...  Zé Beleza, parece que esquece do que estavam falando. Fica olhando pro mundo. Resolve dar uma volta em torno do carro como se o examinasse com olhos de comprador. Olha daqui, olha dali... Desenha uma careta no vidro empoeirado... Dá uma risada... Abre porta, fecha porta... Pára. Olha pra moita na beira do barranco onde vê um pé de murcha-mulata carregadinho de flor. Vai lá, pega um galhinho e vem cheirando.         O diácono  só de butuca. Quando ia perguntar se podia contar com aquela companhia maluca noite a fora, naquele ermo, Zé Beleza,  dá uma aspirada na murcha-mulata e olhando para um ponto fixo no espaço, diz:    - Por que ocê num tira um parafuso de cada roda e põe nessa.     Foi tudo muito rapidinho. Diácono Lucas e o Zé, chegaram à Bom Sucesso,  quando a noiva, triste e chorosa, estava dentro da charrete pronta pra ir pra casa e o povão já indignado com o que seria uma grande desfeita do diácono.  Ninguém entendeu foi porque o Diácono  Lucas, estava andando na companhia daquele maluco. Também ninguém perguntou. Povo de Bom Sucesso,  é assim: não é especula, só sabe o que é pra ser sabido...
O saber a gente aprende com os mestres e os livros. A sabedoria, se aprende é com a vida e com os humildes.

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

EXÔDO RURAL...É A SOLUÇÃO?

Vamos narrar,  conjunturas que afetam as famílias que residem na zona-rural...  E estão ligados à falta de políticas de desenvolvimento, tais como a construção de infraestruturas básicas - estradas, pontes, sem acrescentar "os galhos", de acesso as propriedades, escolas,  postos de saúde que tenham medicamentos, enfermeiro e medico .   Alguns tópicos que incentiva o êxito-rural e da  real  situação, de como a vida do pequeno agricultor esta cada vez mais difícil:                                        -Olá Luís, quanto tempo! Eu sou o Zé, teu colega de ginásio noturno, que chegava atrasado, porque o transporte escolar do sítio sempre atrasava. Lembra, “né”? O Zé do sapato sujo... Tinha professor e colega que nunca entenderam que eu tinha de andar a pé mais de uma légua para pegar a condução. Por isso, o sapato sujava.   Se não lembrou ainda, eu te ajudo: lembra do Zé Cochilo?(hehehe...) Era eu. Quando eu descia da condução de volta pra casa, já era 11 e meia da noite e, com a caminhada até em casa, quando eu ia dormir já era mais da 1 da manhã. Antes de clarear o dia , o pai precisava da minha ajuda pra tirar o leite das vacas. Por isso, eu só vivia com sono. Do Zé Cochilo você lembra, “né”, Luís?   Pois é... Estou pensando em mudar para viver aí, na cidade, que nem vocês. Não que seja ruim o sítio - aqui é bom. Muito mato, passarinho, ar puro... Só que acho que estou estragando muito a tua vida e a de teus amigos aí, da cidade. “Tô” vendo todo mundo falar que nós, da agricultura familiar, estamos destruindo o meio ambiente. Veja só! O sítio do pai, que agora é meu (não te contei: ele morreu e tive que parar de estudar), fica só à uma hora de distância da cidade. Todos os matutos daqui já têm luz em casa, mas eu continuo sem ter porque não se pode fincar os postes dentro de “uma tal” de APP que criaram aqui, na vizinhança. Minha água é de um poço que meu avô cavou há muitos anos: uma maravilha! Mas um homem do governo veio aqui e falou que tenho que fazer uma outorga da água e pagar uma taxa de uso, porque a água vai se acabar. Se ele falou, deve ser verdade, “né”, Luís? Pra ajudar com as vacas de leite (o pai se foi, “né”...), contratei Juca, filho de um vizinho muito pobre aqui do lado. Carteira assinada, salário mínimo, tudo direitinho - como o contador mandou. Ele morava aqui, “com nós”, num quarto dos fundos de casa. Comia com a gente, que nem da família. Mas vieram umas pessoas aqui, do sindicato e da Delegacia do Trabalho, e falaram que se o Juca fosse tirar leite das vacas às 5 horas tinha que receber hora extra noturna, e que não podia trabalhar nem sábado, nem domingo. Mas as vacas daqui não sabem os dias da semana e, aí, não param de fazer leite. Os bichos aí da cidade sabem se guiar pelo calendário? Essas pessoas ainda foram ver o quarto de Juca, e disseram que o beliche estava 10 cm menor do que devia! Nossa! Eu não sei como encompridar uma cama, só comprando outra, “““né”””, Luís? O candeeiro eles disseram que não podia acender no quarto; que tem que ser luz elétrica, que eu tenho que ter um gerador pra ter luz boa no quarto do Juca. Disseram ainda que a comida que a gente fazia e comia juntos tinha que fazer parte do salário dele. Bom, Luís, tive que pedir ao Juca pra voltar pra casa, desempregado, mas muito bem protegido pelos sindicatos, pelo fiscais e pelas leis. Mas eu acho que não deu muito certo. Semana passada me disseram que ele foi preso na cidade, porque botou um chocolate no bolso no supermercado. “Levaram ele” pra delegacia, bateram nele e não apareceu nem sindicato nem fiscal do trabalho para “acudir ele”.  Depois que o Juca saiu, eu e Marina (lembra dela, “né”? Casei!) tiramos o leite às 5 e meia; aí, eu levo o leite de carroça até a beira da estrada, onde o carro da cooperativa pega todo dia - isso se não chover. Se chover, perco o leite e dou aos porcos; ou melhor, eu dava. Hoje eu jogo fora. Os porcos eu não tenho mais, pois veio outro homem e disse que a distância do chiqueiro para o riacho não podia ser só de 20 metros. Disse que eu tinha que derrubar tudo e só fazer chiqueiro depois dos 30 metros de distância do rio, e ainda tinha que fazer umas coisas pra proteger o rio, um tal de digestor. Achei que ele estava certo e disse que ia fazer, mas só que eu sozinho ia demorar uns “trinta dias” pra fazer. Mesmo assim, ele ainda me multou e, pra poder pagar, eu tive que vender os porcos, as madeiras e as telhas do chiqueiro. Fiquei só com as vacas. O promotor disse que, desta vez, por esse crime, ele não vai mandar me prender, mas me obrigou a dar 6 cestas básicas pra uma entidade social  da cidade.  Ô Luis, aí, quando vocês sujam o rio, também pagam multa grande, “né”? Agora, pela água do meu poço eu até posso pagar, mas “tô” preocupado com a água do rio. Aqui, agora, o rio todo deve ser como o rio da cidade: todo protegido, com mata ciliar dos dois lados. As vacas agora não podem chegar no rio pra não sujar, nem fazer erosão. Tudo vai ficar limpinho como os rios aí da cidade. A pocilga já acabou, as vacas não podem chegar perto. Só que alguma coisa “tá” errada: quando vou na cidade, nem vejo mata ciliar, nem rio limpo. Só vejo água fedida e lixo boiando pra todo lado. Mas não é o povo da cidade que suja o rio, “né”, Luís? Quem será? Aqui no mato agora quem sujar tem multa grande, e dá até prisão. Cortar árvore, então... Nossa Senhora! Tinha uma árvore grande ao lado de casa que murchou e estava morrendo. Então, resolvi derrubar pra aproveitar a madeira antes dela cair por cima da casa. Fui no escritório daqui pedir autorização. Como não tinha ninguém, fui no Ibama regional, preenchi uns papéis e voltei para esperar o fiscal “vim” fazer um laudo, para ver se depois podia autorizar. Passaram cinco meses e ninguém apareceu pra fazer o tal laudo. Aí, ai eu vi que o pau ia cair em cima da casa e derrubei. Pronto! No outro dia chegou o fiscal e me multou. Já recebi uma intimação do Promotor porque virei criminoso reincidente. Primeiro, “foi” os porcos, e agora foi o pau. Acho que desta vez vou ficar preso. “Tô” preocupado, Luís, pois no rádio deu que a nova lei vai dá multa de R$500 a R$20 mil por hectare e por dia. Calculei que, se eu for multado, eu perco o sítio numa semana. Então, é melhor vender e ir morar onde todo mundo cuida da ecologia.  Vou pra cidade: aí, tem luz, carro, comida, rio limpo... Olha, não quero fazer nada errado; só falei dessas coisas, porque tenho certeza que a lei é pra todos. Eu vou morar aí, com vocês, Luís. Mas fique tranquilo: vou usar o dinheiro da venda do sítio, primeiro, pra comprar “essa tal” de geladeira. Aqui, no sítio, eu tenho que pegar tudo na roça. Primeiro, a gente planta, cultiva, limpa e reza pra que chova no tempo certo, só depois, colhe pra levar pra casa. Aí, com vocês, é bom que é só abrir a geladeira que tem tudo. Nem dá trabalho. Nem planta, nem cuida de galinha, nem porco, nem vaca É só abrir a geladeira que a comida “tá” lá: prontinha, fresquinha, sem “precisá” de nós, os criminosos aqui, da roça.  Até mais, Luís.
Poesia de  itarareense:  ....Tudo aqui é beleza/Tem canto da passarada/Encantos da natureza/Aqui é minha morada.  Agradeço a Deus, por isso tudo/Esse rincão pedacinho de mundo/Que eu quero permanecer/ No meu cantinho e meu chão/Pois nesse meu doce sertão/ que nasci e quero morrer". - Vandico Carlos Machado, Saudoso poeta sertanejo, nascido no Bairro Santa Barbara, em 06/01/1934 , viveu toda a sua vida no seu cantinho e no seu chão, vindo a  falecer  em 17/04/1998. Fica a sensação antecipada de sermos alertados sobre o que vai acontecer na nossa Zona-Rural, nos versos da última  estrofe da poesia  intitulada:  Meu Cantinho no Sertão.    Foi escrita   em 1958.




quinta-feira, 24 de setembro de 2015

COLETÂNIA


INCONFORMADO

Animais abatidos e apreendidos. Pelos fiscais municipais foram na segunda feira passada mortos muitos cães vagabundos, assim como foram apreendidos bastante cabras, cavalos e vacas, que pastavam em vários terrenos baldios da cidade.  O cidadão José Costa da Luz, conhecido popularmente como  Beca, proprietário de uma grande gleba de terra,  nos altos da cidade,  dirigiu até ao gabinete do prefeito Eugênio Dias Tatit, reclamando da apreensão de suas cabras e vacas; Reivindicando a soltura imediata de seus animais. O prefeito explicou que para efetuar a soltura teria que pagar uma taxa, no valor de Cr$ 20,00 (vinte cruzeiros) por animal.  Para a surpresa, do prefeito, mandou fazer o calculo de  um mês de multas.-"Os meus animais  continuarão  soltos, até que   possa,  cercar um piquete". Argumentou o senhor Beca. "O Itararé" - 04/03/1945.

CHAPELARIA E FABRICA DE CHAPEUS CUNHA 
Euclides Chaves da Cunha, proprietário da fábrica de chapéus Cunha, comunica sua destinta clientela que esta produzindo chapéus do modelo ramezzoni em feltro sob medida e reforma-se chapéus  de pano, feltro e panamá. Rua São Pedro nº1.782, em frente agência Ford. - "O Itararé" -15/5/1958
 
ESPERTALHÃO                                                                                         O indivíduo José Aparecido do Rosário,  há pouco tempo hospedou-se na Pensão da Dona Elisa; sita á rua Padre José Jovino,  desta cidade e permaneceu durante um mês, tendo tudo do bom e do melhor. Ante-ontem, porém, Rosário viu que era tempo de bater a linha da plumagem, o que fez deixando o sra. Elisa de Souza e seu marido JucaVitorino, proprietários da referida Pensão, a verem navios, ou por outra, a contarem nos dedos a importância de Cr$1200,00, que lhe ficara devendo. Os interessados deram queixa à policia e esta providenciou conforme o caso exige. "O Itararé"- 10/12/1961.

RECLAMAÇÃO
Pediram-nos diversos moradores desta cidade, para que fossemos porta-voz ao zeloso delegado de polícia  Dr.  Fito Prates da Fonseca, de diversos distúrbios e tiroteios praticados quase que todas as noites no trecho da rua Prudente de Morais, esquina com  rua 1º. de Maio.  Ao que sabemos, o referido local é ponto de reunião de uma malta de desoccupados que á noite fazem medonho escarcéu, sobresaltando todos os moradores daquele bairro. Estamos certos de que o dedicado dr. Fito Prates, energeticamente providenciará fazendo cessar para sempre esse abuso.   QUEIXA: Sebastião Gonçalves queixou-se ontem, ao dr. Delegado de polícia desta cidade que, passando ante-ontem à noite pela rua, da prefeitura, foi agredido por três indivíduos, os quais não conhece. O queixoso foi submettido a exame de corpo de delito, sendo tomadas por termo as suas declarações. - "O Itararé"- 04 /01/1920.

PRECISA-SE 
De um menino esperto para vender revistas. Tratar na rua 15 de novembro no Estabelecimento Tatit Ltda.  Falar com Jorge Chueri ou Bráulio.  "O Itararé"- 13/01/1957.

PARTIDOS A DAR COM  PAU  
Já são 34 os partidos políticos legalmente constituídos no Brasil em 2015. Outros tantos tentam obter o registro. Parece, pelo menos para os políticos, que a criação de novos partidos é um bom negócio. Por isso, fidelidade à parte, os políticos trocam de partidos, ao sabor de suas conveniências, como quem troca de roupa após o banho.  A profusão de partidos políticos, aumentando a representatividade, fortalece a democracia, dizem alguns. Penso diferentemente. Não há ideologias para tantas siglas partidárias e, a toda evidência, a verdadeira representatividade passa pela qualidade e não pela quantidade de eleitos.   E a salada indigesta que se verifica nos apoios dos partidos nos diferentes níveis de governo? O partido A, na esfera federal, apoia o governo; na esfera estadual, é oposição ao governador do mesmo partido do presidente e, no município, apoia o prefeito que faz oposição ao presidente e ao governador. Pobre do eleitor.
Frase de itarareense: "O preço por não se discutir religião e politica é ser enganado por falsos pastores e políticos corruptos". -Leônidas dos Anjos-CUCA.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

MEMORIZANDO...

 

Na minha imaginação. Um carro de boi descia lentamente a rua cascalhada em direção a Estação Ferroviária, levando uma pesada carga de algodão. , para a beneficiar na algodoeira do Gabriel Jorge   Merege., que ficava bem próxima da estação.   O carreiro Alan Kardec Ferreira, ia à frente da boiada de seis bois zebus mouro-rosa. A longa vara de guatambu, quase três metros, descansava solene no ombro da camisa xadrez azul e branco, com a ponta voltada para o céu. De vez em quando ele olhava para trás e brandia o ferrão fazendo a argola tilintar para mostrar à junta de guia a direção a seguir, embora a boiada já conhecesse de cor e salteado aquele trajeto, trazendo cargas de feijão, milho, lenha em outras ocasiões do ano, para serem transportada pela E.F. Sorocabana.   Alan Kardec, carreiro de meia idade, homem alto, rude, pele queimada debaixo de um chapéu de junco amarelado, porém bem conservado – era o chapéu de vir à praça. O da lida diária lá no bairro de Santa Cruz dos Lopes, era de palha e estava bastante puído – seguia meio cabisbaixo parecendo enfadado. Não seguia sozinho. Atrás do carro que cantava triste uma melodia indefinida, seguia seu filho que devia ter uns 12 anos. O garoto com as bochechas rosadas do sol da manha, se vestia parecido com o pai; Bota cano alto de couro cru, calça brim , de pouco uso, camisa xadrez azul -branco. O chapéu era de palha branca com uma listra azul e estava preso à cabeça por uma tira de couro que passava por baixo do queixo. Parecia estar usando pela segunda ou terceira vez. Muito vivaz, corria de um lado a outro do carro dando ordens – desnecessárias – à parruda junta de coice. (Quero fazer um adendo verídico,  nessa imaginária narração: Alan Kardec Ferreira, foi uns dos maiores carreiros de Itararé, construiu com demais carreiros  e carroceiros a estrada que liga Santa Cruz dos Lopes/Matão/Santa Barbara/Lajeado, a foice e enxadão, construiu várias pontes.  O Prefeito Floriano Cortes, fez uma justa homenagem. perpetuando-o com      nome dado a estrada municipal  citada. Após esse adendo, continuo com as memorias, com personagens que embora no anonimato muito fizeram por Itararé).
Pouco abaixo da esquina o carro que descia carregado cruzou com outro que subia. Era puxado por uma boiada de quatro juntas, todos bois jovens, de cerca de quatro anos, exceto a junta de coice, mais herada. A boiada, também moira, predominantemente branca, puxava um carro parcialmente vazio com sacos de milho, para  o Carlito Mench, tropeiro,  comprador de muares e suínos,  por isso cantava menos, predominando o som grotesco e sem ritmo das duas rodas de ferro no cascalho rústico da velha rua, o carreiro era o senhor Boa Aventura Dias,  Naquele momento passaram também dois cavaleiros lado a lado em direção ao Corredor da Cruz (atual rua Santa Cruz), rumo ao Paraná. O da direita montava um imenso cavalo baio,   crina dourada bem aparada, era um comprador de suínos do Frigorifico  Matarazzo,  enquanto o da esquerda,  o senhor José de Lima, um dos maiores compradores de suínos de nossa terrinha.  Cavalgava uma garbosa mula preta marchadeira com orelhas tão grandes que mais pareciam um coelho, era a  mula Cigana , famosa pelo causo narrado pelo José Maria do Ponto.  O baio levava no arreio um pelego pardo, combinando o tom de cor com a da pelagem, enquanto a mula preta tinha o peso mais leve do muladeiro  atenuado por um pelego vermelho e uma sela preta com cabeçalho de prata o peitoril com argolas de alpaca . Não levavam nada além da guaiaca., mas, ambos carregavam uma mala de garupa, nas ancas dos animais.
Bem vestidos e cobertos por chapelões de feltro, pareciam que iam  à negocio para compra  de porcos, na região de São Domingos.   Carros de bois, cavalos, cavaleiros, mulas burros, tropeiros, porcos e uma bagageira que surgia na curva da rua São Pedro, com a rua Cel. Frutuoso (a do Grupo Escolar de Itararé e do mercado) não eram novidades para ninguém, estavam acostumado com este trafego no Caminho das tropas ( R. São Pedro). Mas fazia um meses que eu mudara e morasse a uns deis quarteirões dali, fazia bom tempo que não vinha  deste lado da cidade. Por isso fiquei alguns minutos observando o transito… para matar a saudade., muitas  vezes poeirenta, às vezes barrenta e às vezes pedregulhenta rua São Pedro era rota imprescindível de carreiros, cavaleiros e tropeiros que vinham de Santa Cruz, Pedra Branca Cerrado entre outros bairros de Itararé, trazendo algodão,  arroz, milho, feijão, polvilho, frangos,  ovos, rapadura, farinha de monjolo e outros produtos agrícolas do norte do município para abastecer o mercado o comercio em geral e as casas, pois muitos sitiantes paravam suas carroças em um quarteirão e vendiam a domicilio para as  donas de casa que faziam suas compras.  Quantas boiadas  e tropas passaram oriundas do sul do Brasil.   Para  atravessar a rua das tropas ( São Pedro), os pedestre tinham  que desviarem  dos estrumes,  que aliais,  muitos moradores faziam a coleta para adubar sua horta e jardim. Esta era a pacata e lendária Itararé.
Eu posso mudar. Eu posso viver da minha imaginação ao invés da minha memória, que tem um potencial ilimitado ao invés da minha limitada imaginação.
Frase de itarareense: "Se nos pensamos, existimos. Se nos percamos , resistimos.  Se nos encontramos, persistimos. Se nos alegramos investimos. Se aborreçamos  desistimos.  Somos isso e nada disso. Bendito! Maldito! Sombra e viço,/ Nosso próprio feitiço". - Dr. Ní Lobo.